Lula troca reunião climática por audiência com o Papa Francisco: o que isso revela sobre as prioridades do governo?
Lula deixa pré-COP com Alckmin para ver Papa

Parece que os ventos mudaram — e não estou falando do clima. Nesta quarta-feira, o presidente Lula tomou uma decisão que deixou muitos de queixo caído: simplesmente delegou a reunião preparatória para a COP-28 ao vice Geraldo Alckmin e pegou o avião para Roma.

O motivo? Uma audiência particular com o Papa Francisco. Agora me diz: o que será que pesou mais na balança — a fé ou a política internacional?

O jogo das agendas

O encontro com o pontífice estava marcado havia tempos, segundo fontes do Planalto. Mas a coincidência com a pré-COP — aquela reunião importantíssima que define os rumos das negociações climáticas — criou um daqueles conflitos de agenda que fariam qualquer assessor suar frio.

E aí veio a solução: Alckmin, que além de vice é ministro do Desenvolvimento, assumiu a bronca. Não é todo dia que se vê o segundo escalão representando o Brasil em discussões ambientais de alto nível, mas parece que confiança não falta.

Os números que preocupam

Enquanto Lula seguia para o Vaticano, os técnicos do governo apresentavam dados que — convenhamos — dariam frio na espinha de qualquer um: o desmatamento na Amazônia continua numa curva ascendente que preocupa. Só em abril, foram 329 quilômetros quadrados de floresta abaixo, segundo o INPE.

Um aumento de 13% em relação ao mesmo período do ano passado. Esses números chegam justamente quando o Brasil tenta reassumir protagonismo nas discussões climáticas globais. Timing, né?

O que dizem os bastidores

Fontes próximas ao governo garantem que a decisão não significa desprezo pela causa ambiental. Pelo contrário — defendem que o diálogo com o Vaticano fortalece justamente a agenda climática, já que o Papa Francisco tem sido voz ativa nesse tema.

Mas cá entre nós: será que a imagem do presidente brasileiro faltando a uma reunião do clima — mesmo que por motivos nobres — não manda um sinal contraditório?

O Itamaraty, sempre diplomático, emitiu nota reforçando o "compromisso histórico do Brasil com as discussões ambientais" e destacando a "importância do diálogo inter-religioso". Linguagem cuidadosa, como sempre.

E Alckmin, como fica?

O vice-presidente — que muitos ainda veem como figura técnica — assumiu o comando da delegação brasileira com naturalidade. Nas palavras de um assessor, "Alckmin tem cacife político mais que suficiente para representar o país nesse fórum".

Mas não dá para ignorar o simbolismo: o presidente que prometeu colocar o meio ambiente no centro de sua política externa ausente do principal encontro preparatório para a COP. A vida, como se vê, é feita de escolhas — e nem todas são fáceis de explicar.

Enquanto isso, em Roma, Lula e o Papa Francisco discutiam — segundo o Vaticano — "paz, justiça social e proteção dos mais vulneráveis". Temas, convenhamos, que têm tudo a ver com mudanças climáticas, ainda que de forma indireta.

O que esperar da COP-28?

Com o Brasil nesse vai-e-vem de prioridades, fica a pergunta: qual será nosso papel real nas negociações climáticas deste ano? O governo insiste que chegaremos fortalecidos, mas os números do desmatamento e essa ausência na pré-COP deixam uma pulga atrás da orelha.

Uma coisa é certa: o mundo está de olho. E entre reuniões técnicas e encontros diplomáticos, o Brasil parece navegar em águas cada vez mais turbulentas. Resta saber se conseguiremos manter o leme firme.

No final das contas, talvez a verdadeira questão seja: dá para salvar o planeta e manter relações diplomáticas ao mesmo tempo? O tempo — e as emissões de carbono — dirão.