Pastor e deputado Otoni de Paula se arrepende de gritar 'mito' e critica bolsonarismo
Deputado pastor se arrepende de gritar 'mito' e critica bolsonarismo

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) protagonizou um dos momentos mais marcantes da semana na Câmara dos Deputados ao fazer um mea culpa público sobre seu passado bolsonarista e declarar seu rompimento definitivo com o movimento que ainda apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente preso.

O arrependimento público do pastor

Em discurso emocionado na tribuna da Câmara nesta quarta-feira, 26 de novembro de 2025, o parlamentar - que também é pastor da Assembleia de Deus Missão e Vida - expressou vergonha de suas posições anteriores. "Me arrependo quando gritei mito num lugar onde só deveria cultuar o senhor", confessou Otoni, referindo-se a manifestações políticas dentro de espaços religiosos.

O deputado fluminense foi ainda mais contundente ao admitir: "A culpa nunca foi de Bolsonaro. A culpa foi minha mesmo. Por isso resolvi alertar meus irmãos que estão no mesmo lugar que ainda estive". Suas declarações ocorreram um dia após o Supremo Tribunal Federal ordenar a execução da pena de Bolsonaro, que foi levado para a prisão na Polícia Federal em Brasília no último sábado.

Críticas ao extremismo e pautas delirantes

Em entrevista exclusiva à revista VEJA na quinta-feira, 27 de novembro, Otoni de Paula aprofundou suas críticas aos ex-aliados. Ele acusou políticos de direita de "blefarem o tempo todo" e se prenderem a "pautas delirantes", como o tarifaço e a anistia ampla que beneficiaria Bolsonaro.

O pastor foi específico em suas críticas: "As pessoas achavam que Trump iria dar visto a Bolsonaro e nomeá-lo a algum cargo na embaixada. São mentiras em cima de mentiras, e o povo está cansado disso". Sobre a proposta de anistia, ele foi taxativo: "A pauta da anistia é delirante porque, mesmo que passe com Motta na Câmara, não iria adiante no Senado com Alcolumbre".

Novo posicionamento político

Otoni de Paula, que já foi líder do governo Bolsonaro, agora busca se reposicionar como uma "voz sensata na direita". Ele explicou sua nova estratégia: "Enquanto estivermos colados ao extremismo do bolsonarismo, nós vamos perder. Estou tentando, então, fazer dois movimentos: um de libertação da igreja, para que volte ao seu papel, e outro de mostrar que a direita é maior que o bolsonarismo".

O parlamentar reconheceu que ganhou muitos votos quando seu discurso se valia da polarização, mas agora prefere adotar uma postura diferente. Apesar das críticas de ex-aliados que o chamam de traidor, ele mantém sua identidade política: "Sou de direita e conservador", frisa, desafiando a militância bolsonarista: "Tentam me desconstruir já que não tem argumentos contra mim".

As declarações do deputado pastor têm reverberado no Congresso, recebendo elogios de políticos da esquerda, inclusive do PT, como André Ceciliano, enquanto aprofundam as divisões no campo conservador brasileiro.