Equívoco ou demonstração de força? Bancada cristã quase ganha espaço na Câmara
Um episódio envolvendo a instalação de uma placa da bancada cristã em uma sala do Anexo 2 da Câmara dos Deputados revelou a força do lobby religioso na gestão do presidente da Casa, Hugo Motta. O fato ocorreu antes mesmo de a criação do grupo ter sido aprovada pelo plenário, causando reações entre aliados do governo Lula.
Da bancada cristã à Frente Parlamentar Evangélica
Na última semana, uma placa identificando a sala 131 como espaço destinado à bancada cristã foi instalada no corredor do Anexo 2. A sala anteriormente era ocupada pelo núcleo de informática do PSDB e passava por reformas quando recebeu a identificação polêmica.
Diante da reação de parlamentares contrários à criação da bancada, a placa foi rapidamente removida. Nesta quinta-feira, 7 de novembro de 2025, o espaço passou a ser identificado como pertencente à Frente Parlamentar Evangélica do Congresso Nacional.
Entretanto, a poucos metros dali, outra placa ainda indicava que a sala 131 seria destinada à bancada cristã, demonstrando a confusão institucional sobre o destino do espaço.
A versão oficial da Câmara
Em nota oficial, a assessoria da Câmara dos Deputados classificou o ocorrido como um equívoco. A explicação dada foi que a placa "Bancada Cristã" foi colocada por engano durante a adequação do espaço que seria destinado à Frente Parlamentar Evangélica.
Segundo a assessoria, a Frente Parlamentar Evangélica ocupava anteriormente uma sala no Anexo IV, enquanto o espaço que ela deixou será destinado à Frente Parlamentar Católica Apostólica Romana.
A instituição garantiu que o erro na identificação já foi corrigido e que a adaptação da sala está sendo realizada pela equipe permanente de manutenção da Câmara, sem custo adicional.
O contraste no tratamento de diferentes grupos
O episódio ganha contornos mais significativos quando comparado ao tratamento dado a outras comissões parlamentares. Enquanto a bancada cristã quase conseguiu um espaço físico antes mesmo de sua criação ser aprovada, a Comissão de Povos Originários esperou mais de seis meses por um local para funcionar após sua criação no início da legislatura.
Este contraste reforça a percepção de que certos segmentos recebem tratamento privilegiado na atual gestão da Câmara, comandada por Hugo Motta, filiado ao Republicanos, partido comandado por Marcos Pereira.
O caso ilustra a complexa relação entre política e religião no Congresso Nacional e levanta questões sobre a isonomia no tratamento das diferentes representações parlamentares.