Estudo da FGV revela que mais de 68% dos jovens do Bolsa Família deixaram o programa
Mais de 68% dos jovens do Bolsa Família saíram do programa

Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e divulgada nesta sexta-feira (5) traz um retrato promissor sobre o futuro do Bolsa Família. O estudo aponta que uma parcela significativa dos jovens que eram beneficiários do programa há uma década conseguiu superar a dependência do auxílio governamental.

Taxas de Saída Reveladoras

O levantamento, intitulado "Filhos do Bolsa Família: Uma Análise da Última Década do Programa", acompanhou famílias cadastradas no Cadastro Único entre os anos de 2014 e 2025. Os dados são claros: 68,8% dos beneficiários que tinham entre 11 e 14 anos em dezembro de 2014 deixaram o programa até outubro de 2025. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos na mesma data de corte, a taxa de saída foi ainda maior, atingindo 71,25%.

Quando considerados todos os beneficiários, sem recorte de idade, a taxa de saída no período foi de 60,68%. Para o pesquisador e economista Valdemar Pinho Neto, coordenador do estudo, esses números falam sobre a sustentabilidade da iniciativa. "Saber que os filhos de Bolsa Família não necessariamente estarão presentes no Bolsa Família do futuro diz um pouco sobre a sustentabilidade do programa", afirmou.

Fatores que Influenciam a Emancipação

A pesquisa cruzou dados do governo federal com a RAIS (Relação Anual de Informações Sociais) para entender a inserção no mercado formal de trabalho. Os resultados mostram que a emancipação está intimamente ligada à situação profissional e educacional da família.

Em 2014, 79,40% dos jovens entre 6 e 17 anos que posteriormente deixaram o programa tinham, como pessoa de referência em casa, alguém empregado com carteira assinada. A qualidade do emprego e a escolaridade mostraram-se decisivas. Crianças e adolescentes sob tutela de alguém com ensino médio completo tiveram taxa de saída de 69,94%, contra 57,59% daqueles cuja referência não tinha o ensino fundamental completo.

O ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, comentou os resultados durante o evento de apresentação na sede da FGV, no Rio de Janeiro. "O objetivo desses programas de transferência de renda é tirar da fome, e tirar da fome é o começo. Depois que tira da fome, como mostra o estudo da FGV, há uma condição melhor para que as pessoas possam estudar, trabalhar, empreender e, com isso, superar a pobreza", disse.

Desigualdades Regionais e Demográficas

O estudo também revelou disparidades importantes. A taxa de saída dos jovens (6 a 17 anos) foi maior nos domicílios urbanos (67,01%) do que nos rurais (55,46%). Quem trabalhava com agricultura teve uma saída menor (53,73%) comparado a outras atividades (69,73%).

As diferenças também aparecem no recorte de gênero e raça:

  • A saída foi maior entre homens (71,46%) do que entre mulheres (55,86%).
  • Entre brancos, a taxa foi de 71,78%, enquanto entre pretos foi 63,78%, amarelos 63%, pardos 61% e indígenas 44%.

Perspectivas para a Segunda Geração

Os pesquisadores projetam um futuro otimista para a chamada segunda geração – os netos dos beneficiários originais do Bolsa Família. Eles acreditam que essas crianças terão mais chances de mobilidade social, desde que fatores como acesso a empregos de qualidade sejam garantidos.

"Quanto maior a qualidade do emprego da pessoa de referência, maior a emancipação dos seus filhos com relação ao programa", explicou Pinho Neto. "O que a gente pode esperar é que se o cenário for de maior qualificação dos vínculos de trabalho ao longo do tempo, os filhos dessas pessoas no futuro também vão ter maior propensão a sair, e não depender de programas de transferência de renda".

Os dados da FGV reforçam as recentes informações divulgadas pelo IBGE, que mostraram queda nas taxas de pobreza e extrema pobreza pelo terceiro ano consecutivo em 2024. O instituto associou a melhora justamente à recuperação do mercado de trabalho e à manutenção de benefícios sociais como o Bolsa Família, embora as disparidades regionais e raciais ainda persistam.