
Num tom que misturava urgência e experiência de quem já viu de perto os estragos da miséria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva soltou o verbo nesta segunda-feira. E não foi pouco. Na abertura do Fórum Global da Alimentação, em Brasília, ele cravar: a fome é, sim, inimiga mortal da democracia.
Não era discurso pra inglês ver. Lula, com aquela voz grave que conhecemos bem, deixou claro que falava sério. "Quando o estômago ronca de verdade", disparou, "a última coisa que importa é voto, é parlamento, é qualquer instituição democrática".
O peso das palavras
E olha que ele não mediu palavras. O presidente foi direto ao ponto, sem rodeios burocráticos que costumam marcar esses eventos internacionais. "Já vi gente preferir um ditador que dá comida do que um democrata que deixa passar fome", confessou, com aquela franqueza que tanto marca seu estilo.
O recado era duro, mas necessário. Num mundo onde 735 milhões de pessoas — sim, você leu direito — enfrentam fome crônica, Lula defende que a segurança alimentar precisa ser tratada como questão de segurança nacional. E faz sentido, não faz?
Brasil no centro do debate
O timing não poderia ser mais simbólico. O país sedia o fórum justamente quando retoma programas como o Fome Zero e o Bolsa Família. Coincidência? Difícil acreditar.
Lula lembrou, com orgulho visível, que o Brasil já foi exemplo mundial no combate à fome. "Entre 2003 e 2014, tiramos 36 milhões da pobreza extrema", ressaltou. "Mas nos últimos anos, infelizmente, voltamos a ver brasileiros revirando lixo".
A plateia, repleta de especialistas e autoridades internacionais, ouviu atenta. Alguns anotavam freneticamente. Outros apenas assentiam, reconhecendo a gravidade do alerta.
Números que assustam
- Mais de 735 milhões passam fome no mundo hoje
- No Brasil, 33 milhões enfrentam insegurança alimentar grave
- 15% da população global sofre com falta crônica de alimentos
"Isso não é estatística", emendou Lula, visivelmente emocionado. "São pessoas de carne e osso. São crianças que não aprendem na escola porque estão com fome. São pais e mães humilhados por não poder colocar comida na mesa".
Um chamado à ação
O discurso foi além do diagnóstico. Lula propôs ações concretas, defendendo uma "articulação global sem precedentes" contra a fome. Ele cobrou dos países ricos mais do que discursos — quer ver compromissos financeiros reais.
"Não adianta falar em direitos humanos enquanto gente morre de fome", cravar. "É hipocrisia pura".
O fórum continua até quarta-feira, mas o tom já está dado. Alto, claro e urgente. Como deve ser quando se fala de algo tão fundamental quanto o direito básico de não passar fome.
E você, o que acha? Até que ponto a fome realmente ameaça nossas democracias? A pergunta fica no ar, ecoando pelas salas do evento e, quem sabe, pelas consciências de quem ouviu.