COP 30 na Amazônia: crise climática é emergência de saúde pública
COP 30: crise climática é emergência de saúde

Belém do Pará se transforma nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025, no epicentro global das discussões sobre o futuro do planeta. A cidade amazônica sedia a COP 30 - a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, marcando a primeira vez que o Brasil recebe este encontro internacional em um território que simboliza tanto a riqueza quanto a vulnerabilidade ambiental: a Amazônia.

Impacto direto na saúde dos brasileiros

O evento histórico transcende as questões diplomáticas e ambientais para se consolidar como uma conferência crucial para a saúde pública. A crise climática já se manifesta claramente como uma crise de saúde, conforme atestam médicos em consultórios, hospitais e comunidades por todo o país.

Os profissionais de saúde testemunham diariamente as consequências das transformações ambientais:

  • Ondas de calor extremo elevam internações por desidratação, doenças cardiovasculares e respiratórias
  • Alterações nos padrões de temperatura e chuva modificam a dinâmica de vetores, ampliando a disseminação de dengue, zika e malária
  • A fumaça das queimadas agrava condições pulmonares preexistentes
  • Desastres naturais e eventos climáticos extremos geram sofrimento psíquico, ansiedade e depressão

Essas situações não representam projeções futuras, mas realidades presentes que desafiam o SUS e os profissionais de medicina em todo o território nacional.

OMS: milhões de vidas podem ser salvas

A Organização Mundial da Saúde já emitiu alertas significativos: milhões de vidas podem ser preservadas até 2050 caso os países implementem medidas de mitigação e adaptação climática orientadas pela saúde. O chamado "Plano de Ação de Belém", integrado à agenda da COP 30, enfatiza a necessidade de respostas focadas em equidade e justiça social.

O reconhecimento de que populações vulneráveis - incluindo comunidades indígenas, ribeirinhas e periféricas - sofrem desproporcionalmente os efeitos da degradação ambiental fundamenta a urgência das discussões.

O papel fundamental da comunidade médica

Segundo César Eduardo Fernandes, presidente da Associação Médica Brasileira, a comunidade médica possui papel essencial neste movimento. A medicina não se limita ao diagnóstico e tratamento de doenças, mas representa, por vocação, uma ciência de prevenção, cuidado e responsabilidade com a vida.

Diante da crise climática, isso significa expandir a perspectiva para além do paciente individual e compreender que a saúde do planeta é inseparável da saúde humana.

A AMB, em sintonia com sociedades de especialidades e conselhos de medicina, defende que o tema "Saúde e Clima" seja incorporado à formação médica e à educação continuada. É fundamental preparar os médicos para:

  • Reconhecer e enfrentar novos padrões de doenças relacionados ao ambiente
  • Desenvolver protocolos de atendimento em situações de desastres climáticos
  • Atuar na prevenção de riscos ambientais

Igualmente urgente é a transformação do setor saúde em uma atividade mais sustentável. Hospitais e unidades médicas, como grandes consumidores de energia, água e materiais, precisam adotar práticas de baixo carbono, gestão adequada de resíduos e estratégias de resiliência como parte do compromisso ético com a vida.

Brasil na liderança do movimento integrado

A COP 30 oferece ao Brasil a oportunidade única de liderar um movimento internacional que una as agendas climática e de saúde. O país, detentor de uma das maiores biodiversidades globais e de um sistema público de saúde de alcance continental, pode e deve se tornar exemplo de integração entre ciência, política e compromisso social.

Conclui-se com uma convicção inegável: o planeta também necessita de cuidado médico. Cuidar do clima significa cuidar das pessoas. Que a COP 30 seja recordada como o momento em que a humanidade compreendeu, definitivamente, que não existe saúde possível em um planeta doente.