Prefeito de Belo Jardim inaugura próprio túmulo em ato inédito: 'Quero ver minha última morada'
Prefeito inaugura próprio túmulo em ato inédito

Numa cena que parecia saída de um romance de realismo fantástico, o prefeito de Belo Jardim, Gilberto Júnior, fez algo que poucos governantes teriam coragem — ou talvez excentricidade — para fazer. Na última quinta-feira, ele inaugurou pessoalmente o que chamou de "sua última morada": seu próprio túmulo.

O cemitério municipal São Miguel Arcanjo, normalmente um local de silêncio e recolhimento, transformou-se em palco de uma cerimônia no mínimo peculiar. Lá estava o gestor municipal, de terno e sorriso largo, cortando a fita simbólica diante de um jazigo de granito negro. Uma imagem que, convenhamos, não se vê todos os dias na política brasileira.

"Quero participar de tudo"

"Decidi fazer isso agora porque quero participar de tudo na minha vida", justificou o prefeito, com um tom que misturava seriedade e bom humor. "É estranho? Pode ser. Mas prefiro encarar a finitude de frente."

O monumento funerário, construído com recursos próprios segundo a prefeitura, ostenta uma placa com seu nome completo — Gilberto Júnior da Silva — e as datas de nascimento e... bem, a segunda data ainda está em branco, felizmente.

Reações dos belo-jardinenses

Enquanto isso, nas ruas da cidade do Agreste pernambucano, a população dividia-se entre o espanto e a resignação. "Nunca vi nada igual", comentou Dona Maria, dona de uma banca de frutas perto da prefeitura. "Cada um com sua loucura, né?"

Já o aposentado José Carlos foi mais filosófico: "Todo mundo vai ter um túmulo um dia. Pelo menos o dele já está arrumadinho."

Mas nem todos viram graça na situação. Alguns moradores questionaram o timing da ação, especialmente quando a cidade ainda enfrenta desafios em áreas como saúde e educação. "Tem coisa mais importante pra fazer, não?", questionou uma professora que preferiu não se identificar.

Um gesto de planejamento

O prefeito, no entanto, defendeu sua decisão como um ato de responsabilidade. "É uma forma de me planejar e não deixar essa preocupação para minha família no futuro", argumentou durante o evento, que contou com a presença de secretários municipais e alguns vereadores — estes últimos com expressões que variavam entre o constrangimento e a curiosidade.

A cerimônia incluiu até mesmo uma bênção do local por um padre, que parecia um tanto perplexo com o pedido. "É a primeira vez que abençoo um túmulo com o dono ainda vivo e presente", confessou depois, em tom baixo.

O que diz a oposição

Do outro lado do espectro político, a situação foi recebida com críticas veladas. "Espero que essa não seja a única obra que ele consiga inaugurar pessoalmente", ironizou um vereador da oposição, em referência às promessas de campanha ainda não cumpridas.

Mas Gilberto Júnior parece imune às críticas. Ao final do evento, chegou a posar para fotos ao lado do jazigo, num gesto que certamente entrará para a história política da cidade. "Agora posso dizer que já tenho onde morar pela eternidade", brincou, antes de seguir para seus compromissos terrenos na prefeitura.

Resta saber se essa atitude incomum inspirará outros políticos — ou se permanecerá como uma curiosidade isolada nos anais da administração pública brasileira. Uma coisa é certa: dificilmente os belo-jardinenses esquecerão o dia em que seu prefeito inaugurou a própria morte.