Irmãos disputam eleição inédita no RS após morte do pai vereador
Irmãos disputam eleição após morte do pai vereador

Disputa familiar inédita no Rio Grande do Sul

Os eleitores de Braga, pequeno município do noroeste gaúcho, vão às urnas no dia 7 de dezembro para uma eleição suplementar histórica. A votação inédita no estado do Rio Grande do Sul decidirá qual dos dois irmãos Della Libera assumirá a vaga deixada pelo pai, o vereador Bolívar Della Libera, falecido no dia 23 de julho.

Legado político em jogo

Bolívar Della Libera estava no seu quarto mandato consecutivo como vereador em Braga. Ele havia sido eleito pela primeira vez em 2012 e chegou a ser o mais votado nas eleições de 2020. Durante sua trajetória política, presidiu a Câmara de Vereadores de Braga por três vezes, consolidando-se como uma figura importante na política local.

O partido Progressistas (PP), pelo qual Bolívar foi eleito, lançou apenas três candidatos nas últimas eleições e elegeu todos, ficando sem suplentes para preencher a vaga aberta com seu falecimento. Essa situação incomum levou à necessidade da eleição suplementar, regulamentada pelo artigo 113 do Código Eleitoral.

A trajetória da família na política

Os dois filhos de Bolívar que agora disputam a vaga têm perfis distintos. Everton Della Libera, de 33 anos, é advogado e presidente municipal do PP. Ele atuou como braço-direito do pai durante a campanha eleitoral de 2024, assumindo a liderança da estratégia política enquanto Bolívar enfrentava problemas de saúde.

Vitória Caroline Della Libera, de 25 anos, é farmacêutica e segue os passos das outras mulheres da família na política. A avó dos irmãos, Lourdes Lorenzatto, foi presidente da Câmara e a primeira mulher a assumir a prefeitura do município. A mãe deles, Inez Lorenzatto Della Libera, foi a segunda mulher a comandar a cidade, exercendo o cargo por um ano em 2018 como vice-prefeita.

Batalha contra o câncer e luto familiar

No início da campanha de 2024, Bolívar recebeu o diagnóstico de câncer na boca e se submeteu a um procedimento médico em setembro daquele ano, faltando menos de um mês para a eleição. "Aquilo foi muito agressivo, muito mesmo. Ele fez cirurgia, radioterapia, quimioterapia", relata Everton.

Apesar do tratamento intensivo, Bolívar assumiu o cargo em janeiro de 2025 em uma bancada familiar - sua esposa Inez foi a mais votada do PP com 242 votos, e o cunhado Carlos Lorenzatto fez 230 votos. O próprio Bolívar havia sido eleito com 227 votos, o quarto mais votado do pleito.

No dia 21 de julho, Bolívar foi internado devido a uma virose. Dois dias depois, precisou ser transferido para a UTI em razão de uma infecção generalizada e faleceu. "A gente ganhou tantas batalhas juntos e a mais importante a gente não ganhou", lamenta Everton.

Disputa marcada pela união familiar

Apesar de concorrerem ao mesmo cargo, o clima entre os irmãos é de parceria e união. "Estamos juntos, sem disputas, dividindo os votos da família", brinca Vitória. Ela conta que tem recebido incentivo de amigos e clientes na farmácia onde trabalha, notando um apoio especial das mulheres.

"É uma questão de união, né? Porque, para nós, foi um baque enorme. A perda do meu pai foi horrível", explica a candidata. "Não há uma disputa. Claro, cada um vai buscar os seus votos, mas é uma união para representar o legado dele."

A decisão final caberá aos 2.894 eleitores aptos a votar em Braga, cidade de aproximadamente 3.200 habitantes localizada a cerca de 450 km de Porto Alegre. A eleição contará com oito locais de votação, treze seções eleitorais, 15 urnas e 39 mesários convocados.

Esta será a primeira eleição suplementar para o legislativo na história do Rio Grande do Sul, conforme confirmado pelo TRE-RS (Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul).