
Brasília nunca é apenas o que parece. Enquanto a cidade desperta sob o céu cerrado do planalto, nos corredores do poder uma dança silenciosa acontece. Rodrigo Pacheco, aquele senador mineiro que parece sempre medir cada palavra, está jogando um jogo muito mais ambicioso do que muitos imaginam.
O que me chamou atenção - e olha que já vi muitas coisas nesses anos acompanhando política - é como ele vem construindo meticulosamente sua imagem. Não é algo gritante, não. É sutil, quase imperceptível, como quem rega uma planta todos os dias sem que ninguém perceba.
Os gestos que falam mais que palavras
Você já parou para observar como Pacheco se relaciona com o Supremo? Parece aquela pessoa que chega na festa e cumprimenta todos, mas com uma atenção especial para o anfitrião. Nos últimos meses, ele tem se encontrado regularmente com ministros do STF. Não são reuniões explosivas ou cheias de holofotes - são conversas discretas, quase íntimas.
E não para por aí. O senador tem se posicionado como uma espécie de ponte entre o Congresso e o Judiciário. Quando surgem aqueles conflitos institucionais que todo mundo já espera - sabe como é, Brasília sendo Brasília - ele aparece com soluções negociadas. Convenhamos, é uma estratégia brilhante.
O timing perfeito e a vaga no horizonte
Agora vem o pulo do gato: há uma vaga se aproximando no STF. O ministro Dias Toffoli completa 75 anos em novembro, e a aposentadoria compulsória abre espaço para um novo nome. Pacheco sabe disso melhor que ninguém.
O que pouca gente comenta é que ele não está apenas se preparando para esta vaga específica. Está construindo credenciais para qualquer oportunidade que surja nos próximos anos. É como um tenista que treina todos os dias, mesmo sem saber quando será o próximo torneio.
E tem mais: sua relação com o Planalto é outro trunfo. Lula já demonstrou apreço pelo senador, e numa eventual indicação, isso pesa - e muito. Mas será que pesa o suficiente?
Os obstáculos no caminho
Nada é simples na política brasileira, e Pacheco sabe disso melhor que eu. Sua atuação no comando do Senado gerou descontentamentos em alguns setores. Há quem ache que ele foi muito conciliador, outros que foi muito firme. Impossível agradar a todos, não é?
Além disso, existe aquela tradição - quase uma regra não escrita - de que o STF precisa de diversidade regional. Minas já tem um representante no plenário. Será que teria espaço para outro?
E tem a questão da idade. Aos 46 anos, Pacheco seria um dos ministros mais jovens da história do Supremo. Isso pode ser visto como vantagem ou como risco, dependendo de quem olha.
O que dizem os bastidores
Conversando com alguns conhecidos que circulam pelo Congresso, percebo que há dois campos formados. Uns acham que Pacheco é o nome natural, quase óbvio. Outros acreditam que Lula pode preferir alguém com perfil mais técnico, menos político.
Mas e aí, o que eu acho? Parece-me que Pacheco está fazendo o dever de casa como poucos fizeram antes. Sua estratégia é paciente, metódica, quase acadêmica. Ele não está correndo atrás da vaga - está fazendo com que a vaga venha até ele.
É como observar um mestre de xadrez preparando seu lance decisivo. Cada movimento parece isolado, mas quando você olha o tabuleiro como um todo, percebe a genialidade da estratégia.
Resta saber se o rei - no caso, o Planalto - vai capturar a jogada.