Em meio a uma delicada disputa política envolvendo o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o Palácio do Planalto, o advogado-geral da União, Jorge Messias, tem percorrido os corredores do Congresso com um discurso afinado aos ouvidos dos parlamentares. Seu objetivo é claro: conquistar os 41 votos necessários no Senado para ser confirmado como novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
O discurso contra o "Procon da política"
Em suas conversas com senadores, Messias tem defendido que a mais alta Corte do país não deve atuar como um "Procon da política" ou como um mecanismo de "repescagem" em debates que, em sua visão, são próprios do mundo político eleitoral. O candidato à vaga deixada por Luís Roberto Barroso critica o que chama de ativismo do Judiciário, posicionamento que ganha força em um momento de tensão entre o STF e o Congresso.
O estopim recente foi uma decisão do decano do STF, ministro Gilmar Mendes. Em uma liminar, ele alterou as regras para processos de impeachment contra ministros da Corte, determinando que apenas o procurador-geral da República pode apresentar denúncias contra magistrados por crime de responsabilidade. A medida revogou um dispositivo da Lei de Impeachment, de 1950, que permitia a qualquer cidadão encaminhar solicitações de destituição ao Parlamento.
AGU entra na briga e pede reconsideração
Na quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, Jorge Messias fez um movimento estratégico. Ele protocolou no STF um pedido de reconsideração para que Gilmar Mendes revisse a decisão que restringe as possibilidades de impeachment de integrantes do Supremo. A manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) atende a uma ordem do próprio decano, mas ecoa a principal queixa da classe política: a perda de protagonismo do Congresso para dar andamento a processos contra ministros.
Para Messias, a legitimidade para apresentar denúncias contra magistrados deve permanecer com qualquer cidadão, fundamentando-se no princípio da soberania popular. Em sua argumentação, tolher esse direito significaria uma intromissão indevida do Judiciário no Parlamento. Apesar do pedido, Gilmar Mendes manteve o seu veredicto.
A estratégia para conquistar o Senado
Além do alinhamento retórico com as críticas ao STF, Jorge Messias tem adotado outras táticas para angariar votos, especialmente entre a oposição. Ele tem assegurado aos senadores que não tem o perfil do ministro Flávio Dino, visto por adversários do governo como uma extensão do Planalto no tribunal.
Questionado sobre a intensa movimentação nos gabinetes do Senado, o advogado-geral recorreu a uma metáfora para descrever sua busca por apoio: "Brasília é terra de muro baixo e todo mundo sabe quem é quem na cidade. Se eu não prestasse, não teria sobrevivido". A fala reflete a percepção de que sua trajetória e sobrevivência política na capital federal são um testemunho de sua capacidade para o cargo.
O périplo de Messias ocorre em um cenário de disputa política entre Alcolumbre e o Planalto, que complica ainda mais a confirmação de seu nome. Enquanto tenta costurar os votos necessários, seu discurso contra o ativismo judicial e em defesa do papel do Congresso ressoa como uma tentativa de construir pontes em um ambiente institucionalmente fragmentado.