Um encontro inesperado no Quartel-General do Exército em Brasília revelou a profunda preocupação da cúpula militar com as consequências da condenação de generais envolvidos na trama golpista articulada com Jair Bolsonaro. O ex-presidente encontra-se preso preventivamente desde o sábado, 22 de novembro de 2025.
Reunião estratégica no comando do Exército
Conforme revelado pelo colunista Robson Bonin no programa Ponto de Vista, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes esteve na residência oficial do comandante do Exército, general Tomás Paiva, na última semana. O objetivo do encontro era discutir os detalhes da operação que levaria à prisão de figuras centrais do 8 de janeiro, incluindo os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira.
A reunião aconteceu de forma improvisada. Enquanto Tomás Paiva recebia o ministro da Defesa, José Múcio, Moraes telefonou. O comandante do Exército então convidou o ministro do STF para ir pessoalmente ao QG, onde os três discutiram as preocupações da caserna.
Sensibilidade interna nas Forças Armadas
O general Tomás Paiva deixou clara a sensibilidade da situação interna. Segundo as informações, mesmo condenados, os generais da antiga cúpula das Forças Armadas ainda mantêm prestígio entre militares da ativa. Muitos desses oficiais serviram diretamente sob o comando deles.
A imagem desses oficiais sendo presos de forma humilhante - algemados, filmados e conduzidos por viaturas da Polícia Federal - poderia gerar uma contaminação do ambiente dentro dos quartéis. A preocupação central era evitar que a prisão simbolizasse humilhação e criasse um clima de desgaste institucional no Exército.
Acordo para prisão discreta
Diante dessas preocupações, foi estabelecido um acordo entre o STF e o comando militar:
- As prisões ocorreriam sem algemas
- Não seriam utilizadas viaturas caracterizadas da PF
- Oficiais do Exército acompanhariam a operação
- Transferência para instalações previamente definidas
- Execução rápida e discreta das prisões
A opção por utilizar quartéis não representa um gesto político, mas sim uma resposta técnica ao pedido militar. Trata-se principalmente de uma tentativa de evitar ruídos em um setor que ainda se recupera do abalo institucional provocado pelo bolsonarismo.
Bolsonaro: tratamento diferenciado
De acordo com as informações, o Exército não fez qualquer pleito por tratamento especial ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Tomás Paiva apenas informou a Moraes que, se o STF decidisse recolhê-lo numa instalação militar, tudo estava preparado, mas deixou claro que essa não era a preferência da Força.
"O Exército não deseja Bolsonaro em um quartel. Ele corrompeu militares no intento golpista, e mantê-lo preso ali seria simbolicamente desastroso", relatou Bonin.
O destino do ex-presidente, portanto, seguiria outro curso - a superintendência da Polícia Federal, marcando uma diferença significativa no tratamento em comparação com os generais envolvidos no mesmo caso.
Esta distinção no tratamento reflete a avaliação do Exército sobre o papel de Bolsonaro na tentativa golpista e seu impacto nas instituições militares, considerado mais danoso e simbolicamente perigoso do que o dos demais envolvidos.