Gilmar Mendes limita impeachment de ministros do STF e gera crise entre Poderes
Decisão de Gilmar sobre impeachment do STF gera crise institucional

Uma decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), sobre os processos de impeachment contra magistrados da Corte reacendeu uma grave crise institucional entre os Poderes nesta sexta-feira, 5 de dezembro de 2025. A medida, vista como uma reação preventiva a movimentos políticos do ex-presidente Jair Bolsonaro, limitou drasticamente a possibilidade de afastamento de ministros do STF e provocou forte reação no Congresso Nacional.

O que decidiu Gilmar Mendes?

Em um despacho com extensas considerações sobre os riscos à democracia e a suposta vilipendiação do Judiciário por governos extremistas, o ministro declarou inconstitucionais diversos trechos da Lei de Impeachment, que é de 1950. O núcleo da decisão fixou a tese de que apenas o procurador-geral da República (PGR) pode apresentar eventuais processos de destituição de juízes do Supremo.

Com isso, o Senado Federal, que historicamente era o responsável por dar seguimento a esses procedimentos, teria suas atribuições esvaziadas. A Casa ficaria restrita a decidir, apenas no caso de o chefe do Ministério Público Federal mover uma ação, se abre ou não o processo contra o magistrado. Dado o alinhamento histórico entre a PGR e o STF, analistas avaliam que, sob esses novos parâmetros, as chances de um impeachment de um ministro da Corte seguir adiante são praticamente nulas.

Reação política e crise institucional

A decisão foi imediatamente interpretada pela oposição como uma tentativa de blindar o Supremo contra uma eventual retaliação, caso haja uma maioria bolsonarista no Senado na próxima legislatura. A medida provocou repulsa generalizada entre parlamentares, reacendendo um antigo embate entre o Legislativo e o Judiciário.

Congressistas reclamam que a iniciativa é mais um capítulo de um problema recorrente: ministros do STF derrubando ou modificando individualmente leis aprovadas pelo Parlamento e sancionadas pelo presidente da República. Para muitos no Congresso, essa prática representa uma usurpação de prerrogativas e alimenta um ambiente de "vale-tudo" institucional na Praça dos Três Poderes.

Como consequência imediata, a crise pode atrapalhar a tramitação de projetos de interesse do governo e do país, em um claro reflexo do tensionamento entre as instituições.

Debate no podcast Os Três Poderes

Os desdobramentos políticos e institucionais dessa decisão foram analisados em profundidade no programa Os Três Poderes, da VEJA, nesta sexta-feira, 5, às 11h. Sob a apresentação do editor Ricardo Ferraz, o debate contou com as participações do colunista Matheus Leitão e dos editores José Benedito da Silva e Diogo Schelp.

Além da polêmica envolvendo o impeachment no STF, a edição do podcast também discutiu outros temas quentes da semana, como a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2026 e o cancelamento da sabatina de Jorge Messias. O senador Carlos Portinho, líder do PL no Senado, também participou do programa, trazendo a perspectiva do Legislativo sobre o conflito de poderes.

A decisão de Gilmar Mendes, portanto, vai muito além de uma questão processual. Ela toca em um nervo sensível da democracia brasileira: o frágil equilíbrio entre os Poderes e os limites de atuação de cada um, um debate que promete seguir acalorado nos próximos dias e influenciar diretamente o cenário político nacional.