O final de 2025 repete um cenário conhecido em Brasília: o desafio de definir prioridades para o ano seguinte se torna a tarefa mais complexa para o governo. Analistas políticos avaliam que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma fase crítica de articulação com suas bases de sustentação no Congresso Nacional, um problema que se agrava com a aproximação do julgamento dos três primeiros anos de mandato e da temporada eleitoral.
Desafios na Relação com o Legislativo
O momento de transição para 2026 exige do Palácio do Planalto uma reflexão profunda sobre como enfrentar os obstáculos que estão por vir. Independentemente da disposição de Lula em concorrer a um novo mandato, a fixação de prioridades é vista como indispensável. No entanto, a primeira e mais urgente tarefa, segundo observadores, é a reorganização dos planos de diálogo com deputados e senadores.
O governo tem demonstrado fragilidade nessa área, fato comprovado por uma série de tropeços recentes. Entre os mais emblemáticos estão a derrubada de vetos presidenciais no tema de licenciamento ambiental, considerada uma derrota significativa, a aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da segurança pública de forma mutilada e a evidente resistência do Senado Federal durante a sabatina do indicado de Lula para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Falhas no Modelo de Diálogo e Consequências
Esses episódios aprofundam a crise nas relações entre os Poderes Executivo e Legislativo. As dificuldades, na avaliação de especialistas, têm origem no modelo adotado para as relações institucionais. Nos momentos de conflito, faltou competência aos encarregados do diálogo para superar impasses, resultando em impaciência e retaliações rápidas.
O que se observa são interlocutores excessivamente temperamentais, uma característica considerada totalmente inadequada para o exercício da política. O balanço das relações entre os três Poderes em 2025 é negativo, marcado pela falta de harmonia e, em muitos casos, pela ausência até mesmo de um diálogo respeitoso.
Exceção na Articulação com Movimentos Sociais
Há, contudo, uma ressalva importante feita à atuação do Partido dos Trabalhadores (PT) em outra frente. O governo deve gratidão ao partido por sua habilidade em conter greves e paralisações de sindicatos de trabalhadores e servidores públicos. Em um contexto de problemas econômicos e sociais, essa capacidade de "anestesiar" o espírito grevista – que o próprio PT estimulou no passado, quando era oposição – tem sido um alívio para a gestão Lula.
Especialistas ponderam que, sob governos anteriores como os de Collor, Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer, as ruas provavelmente estariam tomadas por barricadas e piquetes diante dos desafios atuais.
Esperança para 2026
O ano de 2025 foi marcado por um diálogo difícil, onde um poder frequentemente avançou sobre as atribuições do outro, confiscando prerrogativas e arranhando os princípios básicos da autonomia. A convivência entre Executivo, Legislativo e Judiciário ficou muito a desejar.
Diante desse cenário desafiador, resta a esperança de que, no novo ano que se aproxima, haja maior respeito e harmonia entre os Poderes da República. A capacidade de o governo Lula reverter essa crise de articulação será decisiva para os rumos do final de seu mandato e para o complexo ciclo político que se inicia com os olhos voltados para 2026.