Crise no STF: Alcolumbre desafia Lula e ameaça rejeitar Messias
Alcolumbre desafia Lula em crise por vaga no STF

A indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva desencadeou uma nova e séria crise política em Brasília. A nomeação, anunciada publicamente, foi recebida com uma nota dura do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, no último fim de semana, acirrando os ânimos no Congresso Nacional.

O recado explícito do presidente do Senado

Em sua nota oficial, Davi Alcolumbre criticou com veemência o que chamou de tentativa do Palácio do Planalto de criar uma "falsa impressão" de que a aprovação de ministros para a Corte Suprema estaria condicionada à liberação de cargos públicos ou emendas parlamentares. Para o cientista político Rodrigo Prando, analista do programa Ponto de Vista da TV Brasil, apresentado por Marcela Rahal, a mensagem é um sinal claro de resistência. "Ele marcou a sabatina para o dia 10 de dezembro, um prazo considerado curto para Messias fazer a peregrinação pelos gabinetes. Isso foi lido como um movimento de resistência", avaliou Prando.

O especialista aponta que a raiz do conflito está na frágil articulação política do governo Lula. "O Lula 3 não tem coalizão consolidada. Ele já enfrentava atritos com o presidente da Câmara, Hugo Motta, e agora abre outro foco de tensão com o presidente do Senado", afirmou. Segundo sua análise, Alcolumbre sentiu-se desprezado no processo, já que desejava a indicação do ex-presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, e não foi consultado previamente por Lula sobre a escolha de Messias.

Risco de um revés histórico para o governo

Rodrigo Prando destaca um cenário potencialmente inédito desde a promulgação da Constituição de 1988: a rejeição de um indicado ao STF pelo Senado Federal. Caso Jorge Messias não consiga angariar os 41 votos necessários para sua confirmação, Lula sofreria um revés de grandes proporções. "Seria um grave golpe. Não apenas institucional, mas político, porque revelaria um enfraquecimento da articulação do governo", alertou o cientista político.

Ele lembra que, embora a Constituição estabeleça critérios técnicos como notório saber jurídico e reputação ilibada, a sabatina no Senado é, na prática, um ritual político. A agenda e o trâmite são controlados pelo presidente da Casa, prerrogativa que Alcolumbre reafirmou com sua nota pública. A crise expõe a desconexão entre o Executivo e o Legislativo em um momento crucial.

Os interesses por trás da crise e os próximos passos

Para conter a escalada do conflito, o Planalto precisará agir com rapidez. Rodrigo Prando é taxativo: "O presidente Lula precisa ir a campo. Há aliados dizendo que não é o momento de ele conversar com Alcolumbre, mas me parece inevitável". O diálogo direto parece ser o único caminho para desarmar a bomba relógio.

O analista também sugere que os motivos de Alcolumbre podem ir além da indicação em si. "Há quem diga que ele não deseja apenas cargos. Que mira posições estratégicas, como o comando do Banco do Brasil", observou. Prando pondera que a política sempre se move por interesses, o que não é ilegal desde que respeitados os princípios republicanos.

Por fim, o cientista político conecta o gesto de Alcolumbre de "esticar a corda" com o calendário eleitoral de 2026. "Ele está se posicionando para o ano que vem. A indicação ao STF virou palco de uma disputa maior", concluiu. A nomeação de Messias, portanto, transformou-se no epicentro de uma batalha mais ampla pelo poder e pela influência no cenário político nacional, colocando à prova a capacidade de articulação do terceiro governo Lula.