
Não é exagero. Não é alarmismo barato. A situação na região atingiu um ponto crítico que exige mais do que discursos bem-intencionados — é o que defende o governo venezuelano em seu mais recente e urgente apelo às Nações Unidas.
O ministro das Relações Exteriores, Yván Gil, não mediu palavras durante seu discurso no famoso — e muitas vezes ineficaz — Fórum Político de Alto Nível da ONU. A mensagem era clara como água: a comunidade internacional precisa acordar para a realidade latino-americana antes que seja tarde demais.
Um grito por ações, não promessas
"Medidas concretas". Essa foi a expressão que ecoou pelo salão, repetida com a insistência de quem já cansou de ouvir compromissos vazios. Gil foi direto ao ponto: enquanto os representantes internacionais debatem protocolos e burocracias, milhões de venezuelanos continuam sua diáspora forçada, criando uma pressão insustentável nos países vizinhos.
O que mais preocupa, na visão do chanceler, é o que ele chama de "crise dentro da crise" — o tratamento desigual que os fundos internacionais dão a diferentes regiões do mundo. Enquanto alguns conflitos recebem atenção e recursos generosos, a América Latina parece navegar em águas turbulentas praticamente sozinha.
Os números que assustam
Embora o ministro não tenha citado estatísticas específicas em seu discurso, qualquer observador atento conhece a dimensão do problema. A Venezuela vive uma das maiores crises migratórias do planeta recentemente — só superada por situações como a da Síria em seu pior momento.
E o impacto? Bem, isso se espalha por todo o continente. Da Colômbia ao Chile, do Peru ao Brasil, os países latino-americanos tentam, com recursos limitados, absorver o fluxo constante de pessoas em busca de dignidade.
O que realmente está em jogo
Para além dos números e das discussões diplomáticas, existe uma realidade humana brutal por trás dessa crise. Famílias separadas, profissionais qualificados reduzidos a trabalhos informais, crianças fora da escola — o custo social é incalculável.
E aqui está o ponto crucial que Gil tentou destacar: sem uma resposta coordenada e robusta da comunidade internacional, toda a região pode enfrentar consequências que levarão décadas para serem superadas. Não se trata apenas de ajudar a Venezuela — trata-se de prevenir um colapso em cadeia.
O ministro foi categórico ao afirmar que seu governo reconhece a complexidade do problema. Mas reconhecer não basta — é preciso agir, e rápido.
Uma oportunidade perdida?
O que me deixa pensativo — e talvez isso passe pela cabeça de muitos — é por que demoramos tanto para agir em crises previsíveis. A situação venezuelana não explodiu da noite para o dia. Houve sinais, alertas, pedidos de ajuda anteriores que parecem ter caído em ouvidos surdos.
Agora, com o apelo feito de forma tão pública e direta, resta saber se a ONU e seus Estados-membros finalmente acordarão para a gravidade do momento. Ou se, como tantas vezes acontece, as promessas ficarão restritas às salas climatizadas de Nova York enquanto a realidade lá fora continua se deteriorando.
Uma coisa é certa: o tempo de agir é agora. Amanhã pode ser tarde demais.