Fracasso diplomático: Trump não consegue evitar prisão de Bolsonaro
O jornal americano New York Times publicou uma análise contundente nesta segunda-feira (24) sobre o fracasso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em suas tentativas de influenciar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil. Segundo o artigo de opinião assinado por Jack Nicas, ex-correspondente do jornal no Brasil, os esforços de Trump para manter Bolsonaro fora da prisão foram completamente inúteis e terminaram por fortalecer politicamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Contexto da prisão e reação internacional
Bolsonaro teve a prisão preventiva decretada no último sábado (22) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A decisão foi tomada após o senador Flávio Bolsonaro convocar uma vigília em apoio ao pai nas proximidades da residência do ex-presidente, quando foi detectada uma tentativa de violação da tornozeleira eletrônica que ele usava. A Primeira Turma do STF confirmou por unanimidade a decisão nesta segunda-feira.
Ao ser informado sobre a prisão de Bolsonaro no sábado, Trump limitou-se a comentar: "É uma pena". Segundo a análise do Times, esta manifestação praticamente admite a derrota do presidente americano no caso.
Medidas extremas e consequências inesperadas
Em julho, Trump havia enviado uma carta furiosa a Lula impondo tarifas de 40% ao Brasil e sanções aos ministros do STF na tentativa de influenciar o julgamento de Bolsonaro. Contudo, essas medidas foram ignoradas pelas autoridades brasileiras e produziram um efeito contrário ao esperado.
"As tarifas brasileiras aumentaram os preços nos Estados Unidos para carne, café e outros produtos, justamente quando a Casa Branca enfrenta pressão crescente para aliviar os custos para os americanos", explica Jack Nicas em sua análise.
Mudança de postura e novo alinhamento
O que se viu nos últimos cinco meses foi uma mudança radical na postura de Trump em relação ao Brasil. Em vez das retaliações prometidas após a condenação de Bolsonaro, o presidente americano iniciou uma aproximação com Lula. Os dois se encontraram na Assembleia Geral da ONU, quando Trump afirmou que ele e o brasileiro tiveram uma "grande química". Um mês depois, realizaram novas conversas.
Na última quinta-feira (20), apenas dois dias antes da prisão de Bolsonaro, Trump assinou um decreto retirando as tarifas sobre diversos produtos brasileiros. O desfecho mostra, segundo Nicas, os limites da capacidade de Trump de influenciar governos estrangeiros e sua disposição para abandonar aliados quando isso serve a seus interesses.
O episódio terminou com Bolsonaro iniciando uma pena de 27 anos na prisão, enquanto Trump - após reunião amistosa com Lula - remove as tarifas mais significativas contra o Brasil. A análise conclui que Lula saiu do confronto com Washington ainda mais forte politicamente, em uma demonstração clara da autonomia do sistema judiciário brasileiro.