O Kremlin renovou suas exigências territoriais sobre a Ucrânia e anunciou um novo contato entre os líderes da Rússia e dos Estados Unidos. Nesta segunda-feira, 29 de dezembro de 2025, o porta-voz presidencial russo, Dmitry Peskov, declarou que as tropas ucranianas devem se retirar da região do Donbas, área reivindicada por Moscou.
Nova ligação e exigências territoriais
Peskov afirmou que um novo telefonema entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente americano, Donald Trump, deve ocorrer em breve. Os dois já haviam conversado no domingo, 28 de dezembro, um dia antes do anúncio.
O contato antecedeu a reunião de Trump com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, realizada no estado da Flórida, nos Estados Unidos. Após o encontro, o porta-voz do Kremlin foi direto ao ponto sobre o Donbas.
"Estamos falando da retirada das forças armadas do regime do Donbas", disparou Peskov, referindo-se às regiões de Donetsk e Luhansk. Ele, no entanto, se recusou a esclarecer se a mesma exigência se aplica às regiões de Zaporizhzhia e Kherson.
Estas duas áreas, assim como Donetsk e Luhansk, foram anexadas ilegalmente pela Rússia em setembro de 2022. Atualmente, dados do governo indicam que Moscou controla:
- 90% do território do Donbas.
- 75% das regiões de Zaporizhzhia e Kherson.
- Partes de Kharkiv, Sumy, Mykolaiv e Dnipropetrovsk.
Somando-se ao controle da Crimeia, anexada em 2014, a Rússia ocupa aproximadamente um quinto de todo o território ucraniano.
As "questões espinhosas" do plano de paz
Além das concessões territoriais, Vladimir Putin exige que a Ucrânia abandone definitivamente o objetivo de ingressar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Outra condição imposta por Moscou é a desmilitarização do país, uma ideia veementemente rejeitada por Zelensky.
O líder ucraniano insiste na manutenção de "um forte exército" como uma exigência não negociável para a segurança nacional. Após o encontro com Trump, Zelensky confirmou que aceitou discutir um plano de paz americano baseado em 20 pontos.
Este plano inclui garantias de segurança dos Estados Unidos por um período de 15 anos, um prazo menor do que os 50 anos inicialmente solicitados por Kiev. Apesar das divergências, Donald Trump adotou um tom otimista.
O republicano afirmou que Rússia e Ucrânia estão "a cerca de 95% de um entendimento" para encerrar a guerra, que começou em fevereiro de 2022. Ele acredita que um acordo final possa ser firmado "em duas semanas", restando apenas algumas "questões espinhosas" a serem resolvidas.
Divergências e a importância estratégica do Donbas
Volodymyr Zelensky, contudo, manteve sua posição firme em relação à integridade territorial. Ele voltou a destacar publicamente sua rejeição à possibilidade de ceder partes do país e admitiu discordar de Trump neste ponto específico.
"Temos que respeitar nosso povo e o território que controlamos. Temos posições diferentes quanto a isso", pontuou o presidente ucraniano.
A postura de Zelensky contrasta com as recentes declarações de Vladimir Putin. No início de dezembro, o líder russo alertou que tomará o Donbas "de qualquer forma", seja por meios militares ou através de um acordo diplomático.
A região não é apenas simbólica. O Donbas é considerado o coração industrial da Ucrânia, rico em reservas de carvão e com uma forte concentração de indústria pesada. O interesse russo na área é de longa data.
Desde a década passada, movimentos separatistas na região foram armados e financiados pela Rússia, em uma articulação que foi um prelúdio direto para a invasão militar em larga escala iniciada em 2022. O controle do Donbas representa, portanto, um objetivo estratégico e econômico central para o Kremlin.
O desfecho das negociações, que agora envolvem diretamente os Estados Unidos, definirá não apenas o mapa da Ucrânia, mas também o equilíbrio de poder na Europa Oriental nas próximas décadas.