Rússia acusa EUA de 'pirataria' no Caribe após bloqueio a petroleiros venezuelanos
Rússia acusa EUA de pirataria no Caribe

O governo russo fez uma acusação grave contra os Estados Unidos nesta quinta-feira, 25 de junho. Segundo Moscou, as ações norte-americanas para bloquear a Venezuela no Mar do Caribe configuram atos de "pirataria" e "banditismo". A declaração foi divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia e repercutida pela agência de notícias Reuters.

Acusações e alertas de Moscou

Em comunicado oficial, a chancelaria russa afirmou que a postura dos EUA representa uma retomada de práticas de anarquia na região. O governo de Vladimir Putin também emitiu um alerta sobre o risco de agravamento da crise devido a essas medidas.

A porta-voz do ministério, Maria Zakharova, foi ainda mais enfática em sua crítica. Ela classificou o bloqueio como equivalente ao "roubo de propriedade alheia" e defendeu a necessidade urgente de uma desescalada das tensões. Zakharova expressou a expectativa de que o "pragmatismo e a racionalidade" do presidente Donald Trump possam levar a soluções aceitáveis para todos, dentro do marco do direito internacional.

Ela também reiterou o apoio incondicional da Rússia ao governo de Nicolás Maduro, destacando o suporte aos esforços para preservar a soberania venezuelana, os interesses nacionais e garantir um desenvolvimento estável e seguro para o país.

O caso do petroleiro Bella 1 e a operação naval

As declarações ocorrem em meio a um aumento significativo das tensões envolvendo navios petroleiros ligados à Venezuela. Um dos episódios mais recentes, ocorrido no último domingo, 21 de junho, envolveu o petroleiro Bella 1, que foi cercado pela Guarda Costeira dos EUA, mas ainda não foi apreendido.

De acordo com a Reuters, as autoridades norte-americanas aguardavam a chegada de reforços para realizar a abordagem ao navio. A agência Bloomberg, citando uma fonte próxima à operação, informou que o Bella 1 não transportava petróleo e acabou retornando ao oceano Atlântico, sem previsão de voltar à Venezuela.

O petroleiro, que está sob sanções, foi inicialmente abordado próximo a Barbados, no Caribe. Devido a condições climáticas adversas, ele foi orientado a seguir para águas mais calmas. Um oficial dos EUA afirmou que existe uma ordem judicial de apreensão e que a Guarda Costeira não desistiu da operação.

Um funcionário anônimo ouvido pela Reuters detalhou que agentes embarcados no porta-aviões Gerald Ford pertenciam a uma Equipe de Resposta de Segurança Marítima, mas estavam muito distantes do Bella 1 para agir naquele momento. Este episódio evidencia, segundo a análise da agência, um descompasso entre a vontade política do governo Trump de apreender petroleiros e os recursos limitados da Guarda Costeira, responsável pela maior parte dessas operações.

Contexto energético e ofensiva norte-americana

A ofensiva contra os petroleiros não é isolada. Nas últimas semanas, dois navios já foram apreendidos perto da Venezuela, aumentando a pressão sobre o governo Maduro. Paralelamente, a Casa Branca determinou que as forças militares dos EUA concentrem esforços quase exclusivamente em manter a Venezuela em um estado de "quarentena", especialmente no setor de petróleo, por pelo menos dois meses.

O pano de fundo desta crise tem grande relevância energética. A Venezuela detém a maior reserva comprovada de petróleo do mundo, com cerca de 303 bilhões de barris, segundo a Energy Information Administration (EIA). Apesar desse potencial colossal, a produção é limitada por infraestrutura precária e pelas sanções internacionais impostas desde 2019.

Grande parte do petróleo venezuelano é do tipo extra-pesado, o que exige tecnologia e investimentos elevados para refino. Contudo, ele é considerado adequado às refinarias norte-americanas, especialmente as localizadas na Costa do Golfo.

Desde as sanções, os compradores passaram a recorrer a uma "frota fantasma" de navios-tanque para contornar o embargo. A China se consolidou como a principal compradora do petróleo venezuelano, que representa cerca de 4% de suas importações. Analistas ouvidos pela Reuters projetam que, em dezembro, os embarques devem superar 600 mil barris por dia.

Embora o mercado global permaneça abastecido, a manutenção do embargo pode retirar quase um milhão de barris diários da oferta global, o que exerceria uma pressão significativa sobre os preços internacionais do petróleo.

As ações contra petroleiros ocorrem simultaneamente a operações ordenadas por Trump contra embarcações suspeitas de transportar drogas ilegais. Desde setembro, ao menos 104 pessoas morreram em 28 ataques conhecidos neste contexto.

Em entrevista, a chefe de gabinete da Casa Branca, Susie Wiles, deixou claro o objetivo da estratégia: Trump pretende manter a pressão máxima até que o governo venezuelano ceda às demandas norte-americanas.