Lula e Trump: reaproximação frágil e riscos para 2026, alerta ex-embaixador
Relação Lula-Trump ainda é frágil, diz ex-embaixador

A retomada do diálogo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, criou uma abertura para o governo brasileiro tentar reduzir tensões comerciais históricas. No entanto, especialistas alertam que este movimento está longe de significar uma mudança permanente na relação bilateral e não garante benefícios políticos automáticos para o Planalto no ano eleitoral de 2026.

Um gesto unilateral, não uma negociação

Em entrevista ao programa Ponto de Vista, da revista VEJA, o ex-embaixador Rubens Barbosa destacou que a recente retirada da sobretaxa de 40% sobre parte dos produtos brasileiros foi uma decisão tomada unilateralmente pelos Estados Unidos. A medida, segundo ele, foi motivada por interesses internos americanos e não foi fruto de uma negociação bilateral.

“Isso não é resultado de uma negociação. Foi uma ação direta americana dentro da defesa do interesse deles”, afirmou o diplomata. Apesar do alívio, a carga tributária sobre as exportações brasileiras para o mercado americano permanece significativa, com cerca de 20% dos produtos ainda taxados em até 50%.

Capitalização política e riscos à vista

Internamente, o governo Lula busca transformar o gesto de Trump em capital político, apresentando-o como um sinal de prestígio internacional e da capacidade do presidente em dialogar com líderes de ideologias opostas. Essa estratégia visa fortalecer a imagem de Lula como um estadista pragmático, especialmente perante o empresariado e o agronegócio, setores diretamente impactados pelas tarifas americanas.

Contudo, a aproximação carrega riscos inerentes. A imprevisibilidade de Trump é um fator constante, e temas sensíveis podem reacender conflitos a qualquer momento. Barbosa citou especificamente questões como a Venezuela, o combate ao narcotráfico e a regulação das big techs como potenciais pontos de atrito.

Sobre a Venezuela, o ex-embaixador foi enfático ao considerar que se trata de “um problema interno americano”, minimizando o espaço para uma mediação brasileira de peso, apesar das sinalizações diplomáticas do Planalto.

Impacto no tabuleiro eleitoral brasileiro

A reaproximação entre Lula e Trump também tem reverberações na política doméstica, afetando diretamente o bolsonarismo. O discurso de alinhamento automático e incondicional com o republicano perde força quando o próprio Trump adota uma postura pragmática e dialoga com o governo petista.

Porém, Barbosa faz um alerta crucial: “Não houve negociação comercial real até agora”. A ausência de um acordo formal e a permanência de investigações comerciais americanas em curso deixam a relação em um patamar de fragilidade.

O equilíbrio é delicado e sua manutenção — ou ruptura — poderá influenciar, de forma positiva ou negativa, o cenário das eleições de 2026. A janela de oportunidade aberta pelo diálogo existe, mas, longe de ser uma conquista consolidada, representa um jogo de xadrez complexo onde cada movimento deve ser calculado com extrema cautela.