O governador da Califórnia, Gavin Newsom, um dos principais críticos de Donald Trump e potencial candidato democrata às próximas eleições presidenciais, classificou as recentes tarifas impostas pelo governo americano contra o Brasil como um "dedo do meio" ao país sul-americano. As declarações foram feitas durante evento em São Paulo nesta segunda-feira, 10 de novembro de 2025.
Críticas às tarifas e ausência na COP30
Em passagem pelo Brasil antes de seguir para Belém e a COP30, Newsom não poupou críticas à administração Trump. Durante evento no think tank americano Milken Institute, o democrata afirmou que as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros representam uma atitude vergonhosa contra um importante parceiro comercial dos Estados Unidos.
"Nenhuma pessoa da administração deveria mostrar desrespeito por nenhum de vocês. Esqueçam a política. O Brasil é um dos nossos grandes parceiros comerciais. É o país com o qual deveríamos nos envolver. No entanto, dedo do meio com 50% de tarifas. Isso é vergonhoso", declarou Newsom.
O governador também criticou a ausência de representantes americanos na COP30, que teve início nesta segunda-feira em Belém. "A razão de eu estar aqui é a ausência de liderança vinda dos EUA, este vácuo. É algo bastante infantil. Não há nenhuma representação, nem mesmo um observador", acrescentou.
Tensão nas relações bilaterais
As relações entre Brasil e Estados Unidos entraram em uma fase de tensão significativa após a decisão de Washington de aplicar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros e impor sanções a autoridades nacionais. As medidas são uma resposta direta ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe.
Antes submetidas a uma taxa de 10%, as mercadorias brasileiras passaram a enfrentar uma das maiores alíquotas aplicadas pelos Estados Unidos no mundo. Paralelamente, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes foi sancionado pela Lei Magnitsky, enquanto outros magistrados e ministros tiveram seus vistos americanos cancelados.
Essas ações resultaram de uma articulação do deputado Eduardo Bolsonaro com a Casa Branca, intensificando o conflito diplomático entre as duas nações.
Esforços de negociação em andamento
Apesar das tensões, há movimentos em busca de uma solução diplomática. No final de outubro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, revelou que equipes de negociação de Brasil e EUA estabeleceram um cronograma de reuniões para discutir um acordo "satisfatório" sobre as tarifas.
Essa declaração ocorreu um dia após o encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump na Malásia, que, segundo relatos, terminou com saldo positivo e em clima de amizade, sugerindo que canais de diálogo permanecem abertos.
Newsom como voz alternativa
O governador da Califórnia aproveitou sua visita ao Brasil para destacar as diferenças entre sua administração e a do governo federal americano. "Espero que eu esteja deixando em vocês a sensação de que marchamos no compasso de um tambor diferente na Califórnia, um parceiro estável e confiável. Estamos aqui para o longo prazo", afirmou.
Newsom também fez questão de ressaltar o papel de seu estado como berço de inovação, citando que "não haveria Elon Musk como o conhecemos hoje" sem o ambiente californiano que permitiu o surgimento da Tesla.
Eleito em 2018 e reeleito quatro anos depois, Newsom governa o estado mais populoso e economicamente forte dos Estados Unidos, onde continua promovendo pautas progressistas como políticas ambientais, defesa do aborto, controle de armas e direitos de migrantes.
Considerado um dos favoritos democratas para as eleições presidenciais de 2028, o governador reconheceu pela primeira vez em entrevista à CBS News que considera disputar a Casa Branca, mas afirmou que tomará uma decisão definitiva apenas após as eleições legislativas de 2026.