Não foi apenas mais um aperto de mãos protocolares no Palácio do Planalto nesta segunda-feira (26). A chegada do presidente nigeriano Bola Tinubu a Brasília carregou um peso histórico difícil de ignorar — uma ponte sendo refeita sobre o Atlântico, conectando duas potências continentais com destinos entrelaçados.
Lula, com aquela familiaridade que é sua marca, recebeu Tinubu com um abraço que ia além da cortesia. Era a imagem viva de um reatamento. Afinal, fazia uma década — uma década! — desde que um líder nigeriano pisava no Planalto para conversas de alto nível. O último havia sido Goodluck Jonathan, lá em 2013.
E o que estava em jogo? Mais do que parece. Os dois mandatários mergulharam de cabeça em discussões que podem moldar o futuro económico de ambos os países. Imagine só: comércio bilateral, segurança energética e uma parceria robusta no setor de petróleo e gás. A Nigéria, não custa lembrar, é um gigante africano do ouro negro, e o Brasil… bem, o Brasil tem sede de energia e visão estratégica.
Uma Agenda Cheia e Strategicamente Pensada
Não foi um bate-papo rápido. A agenda foi densa, abrangente. Eles conversaram sobre:
- Comércio e Investimentos: Como desburocratizar e fomentar o fluxo de negócios entre os dois países, criando novas rotas que beneficiem ambos os lados.
- Cooperação Energética: Um tema quente, literalmente. Parcerias em petróleo, gás natural e até energias renováveis estiveram na mesa, com a Petrobras e a NNPC (a estatal nigeriana) no centro das atenções.
- Segurança Alimentar: O Brasil, com seu agronegócio pujante, e a Nigéria, com sua vasta população, têm muito a ganhar colaborando nessa frente vital.
E claro, não poderia faltar o pano de fundo cultural. A herança africana é parte indelével da identidade brasileira — algo que Lula, astutamente, não deixou passar em branco. Foi um reconhecimento público de uma dívida histórica e de um laço que nunca deveria ter sido negligenciado.
Muito Além do Simbolismo
Sim, o simbolismo é poderoso. Mas será que vai sair do papel? Esse é o milhão de dólares — ou melhor, de reais e nairas. Analistas ponderam que, enquanto a retórica é aquecida, o caminho para resultados concretos é espinhoso, exigindo persistência diplomática e, sobretudo, vontade política de longo prazo.
Mas a sensação que fica é de otimismo cauteloso. Um reinício. Uma demonstração clara de que o Brasil está realinhando sua bússola diplomática e重新conectando-se com um continente que é, em muitos aspectos, sua raiz. O tempo dirá se esse reencontro no coração de Brasília foi apenas uma foto bonita ou o primeiro capítulo de uma nova e promissora era de cooperação.
