
O que era pra ser um sopro de esperança na Faixa de Gaza parece mais um déjà-vu político. Enquanto o mundo acompanha a dança das propostas de paz, um analista experiente — que prefere não se identificar — solta a bomba: "Os problemas de sempre continuam intocados".
Não é como se não tivessem tentado. A última proposta de trégua, que circula nos corredores diplomáticos desde semana passada, esbarra nos mesmos espinhos de sempre. De um lado, a exigência israelense de desmilitarização total do Hamas. Do outro, a resistência palestina em abrir mão de sua única moeda de troca — os reféns.
O labirinto sem saída
"É como negociar com um espelho quebrado", compara o especialista, enquanto desenha no ar os contornos do impasse. "Cada fragmento reflete um pedaço da verdade, mas ninguém consegue juntar os cacos."
Os números são cruéis:
- Mais de 38 mil mortos desde o início dos confrontos
- 1,9 milhão de deslocados — quase a população inteira de Gaza
- 3 tentativas fracassadas de cessar-fogo só neste ano
E enquanto os diplomatas trocam acusações, os civis pagam o preço mais alto. Nas ruas de Rafah, a 50 km do luxuoso hotel onde as negociações ocorrem, crianças aprendem a diferenciar tipos de explosivos pelo som.
O jogo das cadeiras musicais
O que diferencia essa nova rodada? Quase nada, segundo fontes próximas ao processo. As mesmas cláusulas, os mesmos intermediários, os mesmos pontos de atrito. Até o linguajar diplomático parece copiado de propostas anteriores.
"É surreal", comenta um observador internacional que acompanha o conflito há década. "Como assistir ao mesmo filme trágico, com atores diferentes, mas o mesmo roteiro previsível."
Enquanto isso, no terreno, a realidade é bem menos cinematográfica. Hospitais operando sem energia, famílias divididas entre fronteiras fechadas, e uma geração inteira crescendo sob o barulho de drones — o novo normal em Gaza.
Será que dessa vez vai ser diferente? O analista suspira antes de responder: "A esperança é a última que morre. Mas em Gaza, ela está em estado terminal".