A Federação Internacional de Futebol (Fifa) está no centro de uma nova polêmica envolvendo transparência e relações políticas. A organização não governamental Human Rights Watch (HRW) enviou uma carta ao presidente da entidade, Gianni Infantino, questionando os critérios do recém-criado "Prêmio da Paz da Fifa". Até o momento, a HRW não obteve resposta.
Falta de transparência preocupa organização de direitos humanos
O prêmio foi anunciado em 5 de novembro e será entregue nesta sexta-feira, 5 de dezembro, durante o sorteio dos grupos da Copa do Mundo de 2026, em Washington, nos Estados Unidos. Segundo a Fifa, a honraria homenageia indivíduos que "unem pessoas em prol da paz" e representa mais de "cinco bilhões de apaixonados por futebol".
No entanto, informações básicas sobre a premiação nunca foram divulgadas publicamente. A Human Rights Watch destacou a ausência de detalhes sobre:
- Os critérios de avaliação dos candidatos.
- A identidade dos jurados responsáveis pela escolha.
- O processo de indicação e seleção do vencedor.
A falta de clareza levou a ONG a buscar explicações diretamente com a cúpula da Fifa, mas seu pedido foi ignorado.
Conselho da Fifa também ficou de fora da decisão
A opacidade em torno do prêmio vai além do silêncio à HRW. Uma reportagem do portal esportivo The Athletic, parte do New York Times, revelou que nem mesmo o Conselho da Fifa, composto por 37 dirigentes, foi consultado sobre a criação da condecoração. Muitos membros do conselho souberam da existência do "Prêmio da Paz" apenas através da imprensa.
Essa revelação levanta questões sobre a governança e os processos decisórios dentro da entidade máxima do futebol mundial, sugerindo que a iniciativa partiu de um círculo muito restrito de pessoas.
Conexões políticas e declarações polêmicas de Infantino
A data do anúncio do prêmio e as recentes movimentações do presidente da Fifa alimentaram ainda mais a controvérsia. No mesmo dia do anúncio, Gianni Infantino participou de um evento em Miami ao lado do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, figura que ele elogia frequentemente.
Semanas depois, Infantino esteve presente em um jantar de Trump que reuniu uma lista de convidados inusitada, incluindo:
- O príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
- O magnata Elon Musk.
- Executivos de tecnologia e criptomoedas.
- Apresentadores da emissora conservadora Fox News.
- O jogador Cristiano Ronaldo.
Em outubro, o presidente da Fifa chegou a escrever no Instagram que Donald Trump "definitivamente merece o Prêmio Nobel da Paz" por sua atuação em um cessar-fogo entre Israel e Gaza. Durante o evento em Miami, quando questionado sobre as chances de o republicano receber o novo prêmio da Fifa, Infantino respondeu de maneira evasiva: "Vocês verão".
A combinação entre a falta de transparência nos critérios, a exclusão do próprio conselho da entidade e as declarações públicas do seu presidente coloca o "Prêmio da Paz da Fifa" sob intenso escrutínio. A entrega da honraria, durante um evento global como o sorteio da Copa do Mundo, promete manter os holofotes sobre esta polêmica que mistura futebol, política e direitos humanos.