A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no sábado, 6 de dezembro de 2025, trouxe um dado que certamente não agradou ao clã Bolsonaro. Os números sacramentam uma percepção que já circulava nos bastidores do centrão e até entre aliados: a candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência em 2026 parece mais um movimento para manter a hegemonia do sobrenome na direita do que uma campanha com viés competitivo real.
Os números que definem o cenário
Em uma simulação de segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Flávio Bolsonaro registra apenas 36% das intenções de voto, contra 51% do petista. Essa diferença de 15 pontos é ainda maior do que a observada na rodada anterior da pesquisa, quando Lula liderava por 48% a 37%, uma margem de 11 pontos. A tendência é clara: enquanto o filho do ex-presidente não avança, o atual mandatário abre vantagem.
Os dados vão além de colocar em dúvida o chamado "risco Flávio". Eles revelam a existência de um teto eleitoral estruturado e difícil de ser superado. A escolha do nome mais visível da família para a disputa de 2026 não está ressoando com um eleitorado que demonstra ceticismo, rejeição à polarização extrema e certa fadiga com o bolsonarismo.
Alternativas conservadoras ganham força
O levantamento do Datafolha joga luz sobre outros nomes do campo conservador que apresentam desempenho consideravelmente mais competitivo. Em simulações contra Lula, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o governador do Paraná, Ratinho Jr., aparecem a apenas 5 ou 6 pontos de distância do presidente, um cenário muito mais apertado.
Até mesmo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro aparece numericamente à frente de Flávio em um eventual segundo turno, com 39% contra 50% de Lula. Essa comparação familiar destaca ainda mais a fragilidade eleitoral do filho mais velho.
O dilema bolsonarista e a reação do centrão
O cenário expõe, de forma cristalina, o dilema fundamental da família Bolsonaro: manter o protagonismo político não basta se não houver viabilidade eleitoral. A aposta na "marca Bolsonaro", simbolizada pela impulsão de Flávio como candidato, se revela, pelos números atuais, uma jogada de alto risco.
Para os partidos do centrão, que já viam a pré-candidatura de Flávio com desconfiança e irritação entre setores pragmáticos da direita, a pesquisa reforça a tese de que seria mais eficiente e seguro negociar alianças com governadores focados em governabilidade e com menor índice de rejeição, como Tarcísio e Ratinho Jr.
Para o eleitorado que deseja uma alternância de poder sem um retorno ao clima de guerra política permanente, o Datafolha funciona como um alerta. Os números indicam que existem caminhos mais competitivos e menos traumáticos para reconstruir um projeto de direita no Brasil, que não passam necessariamente pela simples repetição do passado recente.
A pesquisa foi realizada enquanto o ex-presidente Jair Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, condição na qual se encontra desde 3 de setembro de 2025. Embora a eleição de 2026 ainda esteja distante e o cenário político seja dinâmico, a matemática eleitoral atual, conforme revelada pelo Datafolha, não é favorável ao projeto de sucessão familiar bolsonarista.