O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, está enfrentando uma crise política sem precedentes após acusar publicamente lideranças do PT e do PL de articularem uma conspiração para enfraquecer sua autoridade à frente da Casa.
Conflitos com governo e oposição
Eleito com apoio tanto do PT do presidente Lula quanto do PL de Jair Bolsonaro, Motta tem enfrentado dificuldades para equilibrar esses interesses antagônicos. Suas decisões em temas importantes quase sempre desagradam ao governo ou à oposição, criando um cenário de constante tensão.
Um dos pontos críticos foi o projeto sobre anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro e por tentativa de golpe de Estado. O texto está atualmente emperrado, o que levou parlamentares bolsonaristas a radicalizarem. Insatisfeitos com a situação, chegaram a promover um motim e ocupar à força a cadeira de Motta no plenário, em uma cena considerada pelos aliados como uma desmoralização completa.
Crise com o PT e rompimento
Do lado governista, os problemas surgiram quando Motta designou o deputado Guilherme Derrite, ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo e identificado com a oposição, para relatar o projeto contra facções criminosas apresentado pelo governo.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias, reagiu imediatamente, classificando a escolha do relator como um desrespeito ao presidente Lula e uma provocação. A indignação se deve ao fato de Derrite ter sido subordinado ao governador Tarcísio de Freitas, nome preferido do Centrão para tentar impedir a reeleição de Lula.
Em uma reunião de líderes, Lindbergh confrontou Motta diretamente, deixando o presidente da Câmara se sentindo desrespeitado. Esse episódio marcou o início do rompimento formal.
Estratégia de sobrevivência política
Diante das contestações crescentes, Hugo Motta decidiu romper oficialmente com o líder do PT, Lindbergh Farias, e com o líder do PL, deputado Sóstenes Cavalcante, que participou ativamente do motim e insiste na pauta da anistia.
O presidente alega que petistas e bolsonaristas trabalham em conjunto para minar sua autoridade. Motta fundamenta sua suspeita na amizade entre Lindbergh e Sóstenes, que já foram aliados inclusive em eleições anteriores.
Para garantir sua governabilidade e manter o controle sobre o plenário, Motta organizou um bloco partidário de 275 deputados, número suficiente para prevalecer nas votações mesmo sem o apoio de PT e PL.
Embora os números pareçam favoráveis ao presidente, a situação nos bastidores é bem diferente. Um dos parlamentares mais importantes do país, que preferiu não se identificar, acusou Motta de amadorismo e insinuou que ele não está à altura do cargo.
Outro político influente fez um alerta: certos rompimentos, como mostra a história recente da política brasileira, podem produzir resultados ruins para todos os envolvidos, criando um ambiente de instabilidade que prejudica o funcionamento normal da Câmara.