Um estudo inédito realizado pela More in Common em parceria com o instituto Quaest revela uma transformação profunda no cenário político brasileiro. A pesquisa, publicada na VEJA em 21 de novembro de 2025, desmonta a narrativa de um país dividido apenas entre lulistas e bolsonaristas e aponta para um eleitorado muito mais complexo.
A nova geografia do voto brasileiro
O levantamento, que ouviu 10 mil pessoas, identificou que a população pode ser dividida em seis segmentos distintos. Quando agrupados em blocos mais amplos, os números revelam uma configuração surpreendente: 19% formam o campo progressista, 27% o conservador e 54% compõem a maioria "invisível".
Este último grupo, que representa mais da metade do eleitorado, está distante da polarização e praticamente ausente do debate público. São os chamados Desengajados e Cautelosos, que somados formam uma maioria não engajada que rejeita tanto Lula quanto Bolsonaro e a própria polarização.
"Não formam um centro ideológico clássico, mas um centro emocional e pragmático", explica a pesquisa. Suas principais preocupações são emprego, saúde, segurança e custo de vida - temas concretos do cotidiano que transcendem as disputas ideológicas.
Vantagem conservadora na nova agenda pública
O ano de 2025 trouxe uma mudança significativa na agenda pública nacional. Pela primeira vez, a violência aparece como maior preocupação nacional, superando temas sociais tradicionais, economia, corrupção, saúde e educação.
Esta mudança de foco cria um cenário potencialmente favorável para a direita. Historicamente, a segurança pública é um terreno onde a esquerda tem dificuldades discursivas, enquanto a direita associa o tema naturalmente à autoridade e ao controle.
Dados recentes comprovam essa tendência: pesquisas mostram que a maioria da população aprova políticas de linha dura nas polícias estaduais, posicionamento que encontra mais ressonância no campo conservador.
O isolamento do progressismo militante
Outro fator que potencialmente beneficia a direita é o isolamento social do progressismo militante. A pesquisa identifica este grupo como sendo de alta renda e escolaridade, pouco religioso, cujas posições sobre segurança, costumes e punição divergem radicalmente do restante da sociedade.
Enquanto a maioria defende o endurecimento penal contra a criminalidade, entre os progressistas essa posição é minoritária. O resultado é um progressismo visível e influente no meio acadêmico, mas socialmente desconectado da maioria do eleitorado.
A tradicional narrativa social da esquerda também perde força. Parte do eleitorado já incorporou os programas sociais como parte permanente de sua vida, vendo-os não como novidade, mas como obrigação do governo - o que reduz o poder de mobilização da esquerda nessa frente.
O cenário para 2026
As condições estruturais para 2026 parecem favoráveis à direita: eleitor exausto da polarização, agenda dominada por tema favorável e esquerda frágil em segurança.
Se o campo conservador apresentar um nome limpo, pragmático e não radicalizado, capaz de dialogar com a maioria invisível sem extremismos, poderá construir uma candidatura competitiva já no primeiro turno.
A grande questão que se coloca não é se a direita pode vencer em 2026, mas se conseguirá transformar essa vantagem em vitória - ou se repetirá o erro de 2022 ao afastar o centro cauteloso disponível para ser conquistado.
Com 54% do eleitorado formando essa maioria silenciosa e pragmática, a eleição de 2026 promete ser decidida por quem conseguir falar àqueles que hoje se sentem distantes do barulho da polarização.