Uma pesquisa inédita revela que o Brasil está longe de ser um país dividido entre apoiadores de Lula e Bolsonaro. O estudo realizado pela More in Common em parceria com a Quaest mostra que mais da metade dos eleitores brasileiros formam um grupo de 'invisíveis' políticos que rejeitam a polarização ideológica.
Quem são os eleitores 'invisíveis'
Entre janeiro e fevereiro de 2025, 10.000 brasileiros responderam a quase 200 perguntas sobre temas sensíveis como direitos humanos, cotas raciais e ideologia feminista. Os resultados surpreenderam: apenas 11% do eleitorado se enquadra nos perfis radicais de esquerda e direita.
Em contraste, 54% da população - equivalente a aproximadamente 100 milhões de pessoas - compõem um segmento que transita fora das cartilhas ditadas pelos principais líderes políticos. Este grupo apoia tanto valores progressistas quanto conservadores, dependendo do tema em discussão.
Pablo Ortellado, professor da USP e diretor da More in Common, explica que 'esse grupo consistentemente não polarizado representa um espaço para alternativas políticas'. Segundo o pesquisador, essas pessoas podem ser mobilizadas por novos projetos, mas isso dependerá da habilidade e oferta dos candidatos.
O perfil dos moderados
Contrariando expectativas, os 'invisíveis' não são despolitizados ou desinteressados. Eles simplesmente rejeitam a política polarizada, considerando-a exaustiva e perigosa.
'Eles têm elaborações políticas muito consistentes', afirma Ortellado. 'São desideologizados e têm uma elaboração pragmática voltada para o serviço público, oferta de empregos e qualidade da saúde'.
O estudo mostra que esses eleitores:
- Não compartilham notícias nas redes sociais
- Não discutem política com amigos e família
- Não participam de protestos
- Votam com menos frequência
Economicamente, são as pessoas mais pobres e menos escolarizadas do país. Suas principais preocupações são serviços públicos de qualidade, segurança, emprego e saúde.
Impacto nas eleições de 2026
A pesquisa sugere que as guerras culturais, embora mobilizem os radicais, não agregam junto a este eleitorado decisivo. Ortellado explica que 'os invisíveis não têm essa energia militante, estão fugindo dessa briga'.
O grupo não é necessariamente centrista - parte é lulista, parte é bolsonarista, e outros apoiam temas específicos. O que os une é a ausência de alinhamentos automáticos típicos da polarização.
Segundo o pesquisador, 'esse espaço pode ser convertido eleitoralmente em propostas de esquerda, de direita e de centro'. A chave para conquistar esses eleitores estará na capacidade dos candidatos de apresentar projetos que atendam às suas demandas pragmáticas por melhorias concretas na qualidade de vida.
Os 'invisíveis' representam assim a maioria silenciosa que, longe dos holofotes das redes sociais e dos embates ideológicos, deve definir os rumos do país nas próximas eleições.