No cenário político que se desenha para as eleições presidenciais de 2026, a aparente indecisão da direita sobre seu candidato é vista, nos bastidores do Palácio do Planalto, não como um obstáculo, mas como uma vantagem estratégica. A avaliação é do cientista político Rodrigo Prando, que participou do programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal.
A demora da oposição é um trunfo para Lula
Segundo a análise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "torce" para que a família Bolsonaro adie ao máximo a definição de seu candidato. Quanto mais tempo a oposição levar para organizar suas forças e apresentar um nome unificado, mais o cenário favorece o atual mandatário. Prando destacou que o governo acompanha com interesse a estratégia do clã adversário, que pressiona para que a decisão sobre quem representará o campo conservador só seja tomada em 2026, exigindo ainda que um membro da família integre a chapa, seja como candidato principal ou vice.
"Isso é ótimo para o Lula", afirmou o analista. A razão para isso está profundamente ligada à dinâmica da polarização que marcou a política brasileira nos últimos anos.
Polarização como sistema de retroalimentação
Para a equipe de Lula, a presença do sobrenome Bolsonaro na disputa facilita enormemente a construção da narrativa eleitoral. O Planalto pretende vincular a candidatura oposicionista ao histórico recente da família, que inclui temas como:
- As tarifas impostas durante o governo de Jair Bolsonaro, em alinhamento com políticas de Donald Trump.
- A fuga de aliados políticos em momentos críticos.
- As condenações judiciais relacionadas ao caso da trama golpista de 8 de janeiro de 2023.
"Tudo que o presidente Lula quer é um sobrenome Bolsonaro na disputa", resumiu Rodrigo Prando. Na visão do cientista político, a polarização funciona como um ciclo: a proeminência de um Bolsonaro no debate público reforça o antagonismo que, por sua vez, fortalece e mobiliza a base eleitoral do lulismo. Sem esse elemento de forte contraste, a campanha presidencial perderia clareza e, principalmente, abriria espaço para o surgimento e crescimento de uma terceira via, hoje considerada invisível no cenário nacional.
Fragilidade da direita e força de Lula
O analista também abordou a dificuldade da direita em consolidar um sucessor para o legado de Jair Bolsonaro. Apesar dos esforços de setores do Centrão para lançar rapidamente nomes como o do governador Tarcísio de Freitas, com um vice de peso – citando possibilidades como Ciro Nogueira, Tereza Cristina ou Romeu Zema –, a influência da família Bolsonaro trava qualquer definição precoce.
O resultado, segundo Prando, é um campo político disperso, sem comando claro e sem nomes consolidados perante o eleitorado. "A direita tem enorme dificuldade de consolidar um herdeiro do espólio de Bolsonaro", avaliou.
Nesta equação, o peso político e a experiência de Lula são fatores decisivos. Prando lembrou que o presidente disputa eleições presidenciais desde 1989 e esteve presente em praticamente todos os segundos turnos desde então. "Em 1989 eu tinha 11 anos e o Lula era candidato. Em 2026, terei 48 — e ele 81 — e será candidato", comparou o cientista político, destacando a longevidade e resiliência da trajetória lulista.
Com a esquerda majoritariamente unificada em torno de sua liderança e a direita ainda fragmentada, o segundo semestre de 2025 termina, na análise de Rodrigo Prando, em uma posição nitidamente mais favorável ao presidente Lula na corrida que se aproxima.