O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mantiveram uma conversa telefônica de cerca de 40 minutos nesta terça-feira (2). O diálogo, de iniciativa do governo brasileiro, teve como foco principal a retirada das tarifas comerciais impostas pelos EUA e a cooperação no combate ao crime organizado.
Trump elogia conversa e anuncia recuo parcial
Após o telefonema, Donald Trump se dirigiu a jornalistas e descreveu o diálogo como "ótimo". O republicano afirmou que gosta do colega brasileiro e que os dois discutiram negócios e sanções. Trump já havia anunciado a retirada da sobretaxa adicional de 40% para itens agrícolas, como carne e café, medida que isentou esses produtos das taxas extras em vigor desde abril.
No entanto, o governo brasileiro busca avançar nas negociações. Em nota oficial, a Presidência da República destacou que Lula enfatizou a existência de outros produtos ainda tarifados que precisam ser discutidos entre os dois países. O objetivo do Brasil é avançar rapidamente nessas tratativas para eliminar completamente as barreiras comerciais.
Panorama complexo das tarifas sobre exportações
A situação tarifária é complexa e em camadas. No final de julho, o governo americano impôs uma sobretaxa de 40% a produtos importados do Brasil, que se somou às chamadas "tarifas recíprocas" de 10% aplicadas globalmente. Um decreto posterior criou uma lista com quase 700 exceções, como suco de laranja e produtos de aviação, o que beneficiou 43% do valor dos itens exportados pelo Brasil, segundo levantamento da Folha de S.Paulo.
Em 14 de novembro, os EUA removeram a tarifa de 10% das principais exportações brasileiras, como carne e café. Posteriormente, a sobretaxa de 40% também foi retirada para esses produtos. Apesar dos avanços, um levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) mostra que 22% das exportações brasileiras, no valor de US$ 8,9 bilhões, ainda estão sujeitas à sobretaxa de pelo menos 40%.
Em alguns casos, a carga tributária pode chegar a 50%, pois certos itens continuam pagando a taxa global de 10%. Além desses produtos, 15% das exportações (US$ 6,2 bilhões) estão sujeitas apenas à tarifa global, e outros 27% (US$ 10,9 bilhões) permanecem enquadrados na chamada Seção 232, que permite a imposição de tarifas por razões de segurança nacional, como é o caso do aço e de autopeças.
Contexto da relação e outros temas abordados
Esta não foi a primeira vez que Lula abordou o tema com Trump. Em outubro, durante um contato anterior, o petista já havia defendido o fim do "tarifaço" e solicitado a suspensão das "medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras". Anteriormente, Trump havia cassado vistos de auxiliares de Lula e autorizado sanções financeiras contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
No comunicado sobre a remoção das tarifas para produtos agrícolas, Trump citou a conversa com Lula e afirmou que ouviu opiniões de outras autoridades de que as tarifas não seriam mais necessárias devido ao "progresso inicial nas negociações com o governo do Brasil".
Os dois presidentes também trataram do combate ao crime organizado e concordaram em cooperar neste tema. Lula e Trump chegaram a interagir pessoalmente durante a Assembleia Geral da ONU, ocasião em que o americano afirmou que ambos tinham "boa química". Aquele encontro foi o primeiro após o anúncio do "tarifaço" e da sequência de medidas dos EUA contra o Brasil e outros países.