Arthur Lira aplaude Lula no Planalto e tensiona relação com Motta e Alcolumbre
Lira faz aceno a Lula e tensiona cúpula do Legislativo

Uma cena inesperada marcou a cerimônia de sanção do projeto que isenta de Imposto de Renda quem ganha até cinco mil reais, realizada no Palácio do Planalto. O ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), relator da proposta, surpreendeu ao fazer um discurso público de aproximação com o governo Lula, em um momento de evidente distanciamento entre o Executivo e a atual cúpula do Congresso.

Discurso de aproximação em meio a crise institucional

Durante o evento, realizado na última semana, Lira garantiu ter uma relação "próspera, correta e tranquila" com o presidente Lula. O deputado alagoano, que já foi vaiado por militantes petistas, foi aplaudido após enviar um "abraço especial" à ministra Gleisi Hoffmann e até projetar um possível quarto mandato para o petista. A cena ganha contornos dramáticos porque os atuais presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), convidados para o ato, decidiram não comparecer.

O gesto de Lira é significativo porque ele nunca foi um aliado de primeira hora de Lula. Pelo contrário, sua imagem sempre esteve associada ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Durante seu comando na Câmara, Lira teve atritos públicos com o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e rompeu relações com o então articulador político do governo, Alexandre Padilha.

Jogos de poder e sombras sobre os sucessores

A movimentação de Arthur Lira é interpretada nos bastidores de Brasília como uma manobra política de múltiplas facetas. Para aliados do governo, sua presença no Planalto sinaliza que ele pode se tornar um canal de diálogo alternativo com o Congresso, em um momento de estremecimento das relações oficiais.

Por outro lado, o movimento também é visto como uma forma de projetar poder e fazer sombra a seus sucessores. Um episódio recente ilustra essa dinâmica: durante um motim da oposição no plenário da Câmara, Hugo Motta demonstrou fragilidade ao ser impedido de sentar-se na cadeira de presidente. O impasse só foi resolvido após lideranças do PL se reunirem com Lira em uma conversa a portas fechadas.

Circula entre pessoas próximas a Motta a possibilidade de Lira, cuja candidatura ao Senado enfrenta obstáculos, desistir da disputa e permanecer na Câmara com o objetivo de tentar reassumir a presidência da Casa em 2027, ameaçando o projeto de reeleição do paraibano. O próprio Lira já negou publicamente essa hipótese.

Batalha no Senado e reações da cúpula atual

A estratégia de Lira tem como pano de fundo sua ambição de conquistar uma cadeira no Senado por Alagoas em 2026, onde terá como principal adversário o senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu rival histórico no estado. A decisão do Senado de acelerar a tramitação de um projeto alternativo sobre o IR, enquanto o texto do governo estava travado na Câmara, foi interpretada como uma manobra para fortalecer Renan, que preside a comissão responsável, em detrimento de Lira.

Após a reação dos deputados e a aprovação do texto original do governo, Davi Alcolumbre decidiu entregar a relatoria da medida no Senado justamente a Renan Calheiros, que compareceu ao ato de sanção no Planalto. Interlocutores de Alcolumbre observam que Lira, se eleito senador, pode brigar pela poderosa presidência do Congresso em 2027, cargo que o senador amapaense deseja manter.

O cenário político continua em ebulição. Lideranças do PL, partido que trabalha para formar uma grande bancada, já sinalizaram que não apoiarão novamente Hugo Motta caso ele mantenha resistência em pautar o projeto da anistia, uma bandeira defendida por Arthur Lira. Enquanto isso, Lira planeja lançar seu filho, Álvaro Lira, como candidato a deputado federal em 2026, consolidando seu projeto de poder familiar.