O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) iniciou sua pré-campanha à Presidência da República em 2026 envolvido em um cálculo político aberto: a possibilidade de desistir. Em seu primeiro compromisso público desde o anúncio da candidatura, realizado no domingo, 7 de dezembro de 2025, o parlamentar afirmou que tem um "preço" para recuar da disputa.
O "preço" da desistência e a sombra de 8 de janeiro
Após participar de um culto em Brasília, Flávio Bolsonaro foi direto ao ponto ao ser questionado sobre a continuidade de seu projeto eleitoral. "Olha, tem uma possibilidade de eu não ir até o fim. Eu tenho um preço para isso. Eu vou negociar. Eu tenho um preço para não ir até o fim", declarou, cercado por apoiadores.
O comentário gerou imediata especulação sobre qual seria a contrapartida para uma eventual retirada. Quando perguntado se o "preço" estaria ligado à votação da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, o senador reagiu com ironia, limitando-se a dizer "Tá quente, tá quente", sem dar mais detalhes.
O anúncio de sua pré-candidatura, feito na sexta-feira, 5 de dezembro, foi tratado por aliados do Centrão como um "bolão de ensaio" – um teste para medir a aceitação da ideia. Internamente, a decisão causou desconforto em setores da direita, que prefeririam nomes considerados mais competitivos, como o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Rejeição nas pesquisas e a busca por apoio
A estratégia de Flávio Bolsonaro esbarra em um dado concreto: a baixa aprovação popular. Uma pesquisa Datafolha divulgada no mesmo domingo, 7, mostra que apenas 8% dos entrevistados consideram que o filho mais velho do ex-presidente deveria ser o nome escolhido para liderar o conservadorismo em 2026.
No mesmo levantamento, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e o próprio Tarcísio de Freitas aparecem como opções preferidas para a sucessão presidencial. Diante desse cenário, a agenda do senador está focada em articulações políticas.
Nesta segunda-feira, 8, ele iniciou uma rodada de conversas com líderes do Centrão, incluindo nomes como Valdemar Costa Neto (PL), Ciro Nogueira (PP) e Antonio Rueda (União). Na terça-feira, pretende visitar novamente o pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que acompanha a movimentação à distância, para discutir os desdobramentos.
Mercado reage e o discurso da "pacificação"
A repercussão financeira ao anúncio da candidatura foi negativa. Na sexta-feira, 5, a divulgação fez o Ibovespa virar para queda e recuar quase 2%. Flávio tratou a reação do mercado como previsível e, em sua avaliação, precipitada.
Para acalmar investidores, o senador apresentou uma nova imagem de si mesmo e da família Bolsonaro. "Eles vão conhecer um Bolsonaro diferente, um Bolsonaro muito mais centrado, que conhece a política, que conhece Brasília, que vai querer fazer uma pacificação no país", afirmou, em um discurso que tenta distanciar-se do tom mais radical associado ao sobrenome.
A decisão de se lançar, segundo Flávio, foi amadurecida em conversas com o pai e oficializada após uma reunião familiar na semana passada. O ex-presidente teria aguardado o momento em que se sentisse "confortável" para liberar o anúncio.
Agora, entre negociações, resistências internas e a mensagem cifrada sobre ter um "preço", Flávio Bolsonaro abre sua pré-campanha tentando convencer aliados, eleitores e o mercado financeiro de que seu nome merece permanecer no jogo. A grande incógnita é se os esforços serão suficientes para levá-lo até o fim da disputa ou apenas até o ponto em que uma negociação de retirada faça sentido político.