No primeiro mês de pré-campanha para a Presidência da República, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) iniciou uma série de articulações políticas com um objetivo claro: construir uma base de apoio sólida e demonstrar credibilidade, especialmente junto ao mercado financeiro. A estratégia busca superar a desconfiança inicial de partidos do centrão e apresentar argumentos para reduzir sua rejeição.
Estratégia de aproximação com o mercado e ex-ministros
O esforço inicial do filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro tem se concentrado em buscar o endosso de ex-ministros do governo anterior, dirigentes do PL e nomes da direita com trânsito no setor financeiro. Aliados próximos avaliam que um dos erros do governo Bolsonaro foi se cercar de auxiliares inexperientes, um equívoco que Flávio pretende evitar.
Por isso, ele tem discutido propostas e buscado conselhos de figuras como o ex-ministro da Economia Paulo Guedes, o ex-ministro de Minas e Energia Adolfo Sachsida e o ex-presidente do BNDES Gustavo Montezano. A empresários, Flávio se apresenta como um "Bolsonaro moderado", prometendo seguir a "cartilha de Paulo Guedes", com redução de impostos, controle da taxa de juros e um Estado mais enxuto.
O braço direito nas articulações financeiras
Quem tem atuado como principal articulador do senador junto ao mercado é Filipe Sabará, ex-secretário municipal na gestão de João Doria. Sabará organizou dois eventos de aproximação na capital paulista: um com integrantes do banco suíço UBS e outro com empresários na casa de Gabriel Rocha Kanner, sobrinho de Flávio Rocha, dono da Riachuelo.
"Eu tenho proximidade com o mercado. Foi meio natural, o pessoal começou a me perguntar sobre o Flávio, e eu resolvi fazer essa ponte", afirmou Sabará, que em 2024 coordenou a campanha do influenciador Pablo Marçal à Prefeitura de São Paulo. Foi ele também quem articulou o apoio de Marçal a Flávio, colocando à disposição do senador o arsenal de comunicação digital do influenciador.
Foco em São Paulo e Minas Gerais para 2026
A estratégia de pré-campanha de Flávio Bolsonaro prevê uma ampliação da agenda de viagens pelo país a partir de fevereiro, com foco especial nos estados de São Paulo e Minas Gerais. O objetivo é tentar reverter os votos que, em 2022, migraram para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesses importantes colégios eleitorais.
Em São Paulo, o deputado estadual Lucas Bove (PL) se colocou à disposição para atuar na pré-campanha, utilizando seus contatos em associações comerciais, bancos e com o setor ruralista. "Assim que a candidatura dele foi confirmada, já unificou toda a base bolsonarista. Estamos muito confiantes", declarou Bove.
Internamente, avalia-se que, embora a avenida Faria Lima represente uma parcela pequena do eleitorado, a desconfiança do mercado financeiro passa um sinal negativo para o resto do país. Daí a importância de conquistar esse apoio.
Busca por sustentação política dentro do PL
Sem conseguir despertar o mesmo entusiasmo em partidos como PP, União Brasil e Republicanos, Flávio tem se apoiado fortemente na cúpula do seu partido, o PL. Seus principais sustentáculos são o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e o secretário-geral da legenda, Rogério Marinho (RN), que também foi ministro no governo Bolsonaro e é líder da oposição no Senado.
Marinho, que pretende concorrer ao governo do Rio Grande do Norte em 2026, tem se engajado ativamente na pré-campanha de Flávio, tentando articular apoios junto a outras siglas. O senador já declarou publicamente que quer Marinho ao seu lado durante toda a campanha, destacando sua competência e confiança.
A pré-campanha ainda não tem um marqueteiro oficial designado. Duda Lima, nome histórico do PL no marketing eleitoral, já afirmou que não comandará campanhas em 2026, lembrando os atritos que teve com os filhos de Bolsonaro durante a campanha de Ricardo Nunes à Prefeitura de São Paulo.
Enquanto isso, Flávio Bolsonaro segue sua jornada para tentar consolidar a ideia de que é o "Bolsonaro que o mercado sempre quis" – respeitado no Senado, disposto a negociações políticas e ao diálogo, características que tem destacado em seus encontros com investidores.