O anúncio de que o senador Flávio Bolsonaro será o representante do clã na corrida presidencial de 2026 é visto pelo núcleo mais próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro como um verdadeiro teste de fidelidade para a base de apoio. A decisão, formalizada em 5 de dezembro de 2025, ocorre em um contexto de tensão com o Centrão e tem como objetivo identificar quem permanece leal à família.
Um movimento para medir lealdades
Segundo fontes próximas ao ex-presidente, atualmente preso após condenação pelo STF por tentativa de golpe, a escolha do primogênito vai além de uma simples definição de candidatura. A iniciativa serve para separar o joio do trigo dentro da direita brasileira. A expressão, de origem bíblica, é usada para simbolizar a necessidade de distinguir os apoiadores genuínos daqueles que apenas acompanham o movimento por conveniência.
Em conversas reservadas, integrantes do núcleo bolsonarista afirmam que o momento é crucial para ver quem está para valer com Bolsonaro e quem vai pular fora. A avaliação é de que a postura de lideranças do Centrão, especialmente em relação a pautas caras ao grupo, como o PL da Anistia, demonstrou um esgotamento da paciência do grupo mais próximo do ex-presidente.
Esgotamento com o Centrão e a estratégia política
A formalização da candidatura de Flávio Bolsonaro ocorreu em um ambiente de frustração com aliados do centro do espectro político. Fontes ouvidas pelo Radar destacam que houve um cansaço em esperar por gestos dessas lideranças. O projeto de lei que trata de anistia permanece parado na gaveta do presidente da Câmara, e sinais do chefe do Senado também indicaram falta de interesse em levar a proposta adiante.
Sentar em cima também é se posicionar. E, neste caso, estão do lado oposto ao que defendemos, apontou uma fonte do núcleo bolsonarista, em crítica velada aos parlamentares do Centrão. A percepção é de que a inação desses grupos equivale a uma tomada de posição contrária aos interesses da família Bolsonaro.
Reação cautelosa dentro do PL
Dentro do PL (Partido Liberal), legenda pela qual Jair Bolsonaro foi eleito, a movimentação em torno de Flávio é confirmada por lideranças, mas com ponderações. Embora reconheçam a decisão, alguns avaliam que se trata da decisão do momento, deixando em aberto a possibilidade de mudanças até o ano eleitoral de 2026. Essa postura revela um certo cuidado em alinhar totalmente o partido a uma candidatura familiar em um cenário político ainda em formação.
O anúncio, portanto, funciona como uma sonda lançada ao campo político. Ele testa a solidez da base bolsonarista, pressiona antigos aliados a se manifestarem e coloca o nome de Flávio Bolsonaro no centro do debate sucessório, enquanto o patriarca da família permanece afastado da disputa direta por força da decisão judicial.