
Não é segredo pra ninguém que o cenário político brasileiro parece mais uma novela das nove – cheia de reviravoltas e personagens complexos. Mas uma análise recente jogou uma luz ainda mais crua sobre um dos dramas centrais desse enredo.
O cientista político, em conversa franca no podcast 'O Assunto', foi direto ao ponto. A família Bolsonaro, segundo ele, não está apenas isolada. Está, para usar um termo forte mas preciso, sequestrada. Não por criminosos, claro, mas por algo talvez mais perigoso: bolhas ideológicas impenetráveis.
Imagine só: cercados por um eco constante de afirmações e convicções que nunca são contestadas. Um mundo paralelo onde a realidade é moldada para caber numa narrativa específica. É um daqueles casos clássicos em que a proximidade com certos grupos acaba criando uma barreira – grossa, pesada – que distorce completamente a percepção do que acontece lá fora, no Brasil real.
E no meio disso tudo, Tarcísio?
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aparece na análise como uma figura quase trágica, caminhando sobre uma corda bamba. De um lado, a base bolsonarista que o elevou. Do outro, um país que, em muitos setores, rejeita veementemente o que o bolsonarismo representa.
O risco? É palpável. O politólogo alerta que Tarcísio corre um perigo sério de sofrer um veto antibolsonarista. Não um veto formal, legislativo, mas algo mais poderoso: um veto social, político e eleitoral. A simples associação pode se tornar uma âncora tão pesada que afunda qualquer ambição futura que vá além do seu atual reduto.
É uma equação complicadíssima. Como se equilibrar nesse jogo de forças? Como agradar a uma base fervorosa sem, ao mesmo tempo, alienar o eleitorado moderado que é essencial para qualquer projeto nacional? Parece que Tarcísio tenta bailar em dois casamentos distintos, com musicas e ritmos completamente diferentes.
A impressão que fica – e a análise corrobora isso – é a de um governador num labirinto político. Cada passo em direção a um grupo é um passo de distância do outro. E no final, o grande temor é que essa dança difícil acabe isolando ele também, talvez não numa bolha familiar, mas numa bolha política de própria criação.
O recado do especialista soou menos como uma previsão e mais como um alerta urgente. O preço da associação pode ser alto demais. O desafio de Tarcísio, portanto, vai muito além de administrar o estado mais rico da federação. É, antes de tudo, o desafio de sobreviver politicamente num país profundamente dividido e cansado de polarizações estéreis.