Direita não bolsonarista é maior e mais radical, aponta pesquisa
Direita não bolsonarista é maior e mais radical

Um levantamento recente da Genial/Quaest revelou dados surpreendentes sobre o cenário político brasileiro. A chamada "direita não bolsonarista" já representa quase o dobro de eleitores quando comparada à direita que segue fielmente o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Os números da nova direita brasileira

De acordo com a pesquisa realizada em 15 de novembro de 2025, a direita não bolsonarista corresponde a 22% de todo o eleitorado nacional, enquanto a bolsonarista aparece com apenas 13%. O estudo classificou os entrevistados em cinco grupos distintos: lulistas, esquerda não lulista, independentes, bolsonaristas e direita não bolsonarista.

O perfil mais radical dos não bolsonaristas ficou evidente nas respostas sobre a operação policial no Rio de Janeiro que resultou em 121 mortos. Quando questionados se gostariam que uma operação similar fosse realizada em seus estados, 62% dos não bolsonaristas aprovaram a ideia, enquanto entre os bolsonaristas o índice foi de 53%.

Radicalização em temas de segurança pública

A divergência com as declarações do presidente Lula também mostrou diferenças significativas entre os grupos. Sobre a afirmação de Lula de que a ação policial no Rio foi "desastrosa", 82% dos não bolsonaristas discordaram, contra 79% dos bolsonaristas.

Quando questionados se concordavam que a declaração presidencial de que "os traficantes são vítimas dos usuários" representava uma "opinião sincera de Lula", 74% da direita não bolsonarista respondeu positivamente, enquanto entre os bolsonaristas o percentual foi de 67%.

O posicionamento de Kim Kataguiri

O deputado Kim Kataguiri (Novo-SP), que se identifica como direita não bolsonarista, comentou os resultados da pesquisa. "Acho que nós realmente somos muito mais radicais em relação a algumas pautas. Em relação à segurança pública, por exemplo, a gente defende uma declaração de guerra ao crime organizado, com o endurecimento de leis penais", afirmou o parlamentar.

Kataguiri foi crítico ao desempenho do governo Bolsonaro: "O Bolsonaro esteve na Presidência, teve maioria no Congresso e não fez nada, não teve nenhuma lei de endurecimento ao crime. Pelo contrário, a gente teve dois afrouxamentos, que foi a criação do juiz de garantias, e a alteração da Lei de Improbidade Administrativa, que privilegiou muito prefeito corrupto e incompetente".

Explicação para a radicalização

Segundo o cientista político Felipe Nunes, CEO da Quaest, há uma explicação sociológica para o perfil mais radical da direita não bolsonarista. "A direita não bolsonarista é composta majoritariamente por pessoas de classe média, que convivem com o medo da violência de forma mais intensa. Isso produz nesse público um efeito de radicalização maior do que o bolsonarista, que tende a ser mais velho e menos afetado por esses temas no dia a dia", explicou.

Nunes destacou que a soma da direita não bolsonarista com o eleitorado bolsonarista representa mais de um terço do total de eleitores. Esse cenário, segundo ele, abre espaço para candidatos com propostas mais radicais, especialmente no que diz respeito à segurança pública.

Os dados sugerem uma transformação significativa no espectro político da direita brasileira, com o surgimento de um grupo numericamente mais expressivo e ideologicamente mais radicalizado que o bolsonarismo tradicional.