O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma série de desafios políticos quase simultâneos, que testam sua capacidade de articulação em meio a um cenário de expectativas frustradas e atritos com o Congresso e a oposição. Os eventos desta quinta-feira, 18 de dezembro de 2025, envolvendo uma operação da Polícia Federal, a reação a uma vitória da oposição no Legislativo e as incertezas sobre um acordo internacional, elevaram a temperatura em Brasília.
Operação da PF gera apreensão no Congresso
Na manhã desta quinta-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação que resultou na prisão de Adroaldo Portal, secretário-executivo do Ministério da Previdência. A ação investiga um suposto esquema de fraudes no desvio de aposentadorias do INSS.
O nome do senador Weverton Rocha (PDT-MA), integrante da base governista, foi apontado pela PF como suspeito de ser beneficiário do esquema. No entanto, o pedido de prisão do parlamentar foi negado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, André Mendonça.
A operação gerou apreensão em setores do Congresso, que demonstram insegurança sobre o conteúdo e a amplitude das investigações conduzidas pela PF, potencialmente afetando a já delicada relação entre os Poderes.
Frustrações na agenda interna e externa
Em um movimento que promete acirrar os ânimos com o Legislativo, o presidente Lula afirmou que vetará o Projeto de Lei da dosimetria, aprovado pelo Congresso. A medida reduz as penas do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros condenados pela trama golpista de 8 de janeiro, representando uma clara vitória da oposição e da direita.
A aprovação do projeto evidenciou a falta de influência dos ministros sobre as bancadas de seus próprios partidos, mesmo após cobrança direta de Lula. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), assumiu a responsabilidade por um acordo de procedimento que permitiu a votação da proposta, em troca da análise de um projeto tributário do Executivo.
No front externo, outra expectativa foi frustrada. A tão aguardada assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, marcada para o próximo sábado, 20, foi declarada "prematura" pela primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, somando-se à resistência já conhecida do presidente francês, Emmanuel Macron.
Lula reagiu com firmeza, afirmando que encerraria as negociações caso o acordo não fosse assinado no sábado. Após telefonema com Meloni, o presidente relatou que ela pediu mais prazo para resolver um embaraço político interno. A cúpula do bloco decidirá no sábado se concede ou não essa extensão, mantendo a incerteza sobre a concretização do tratado.
Reações e ajustes na base de apoio
Diante da aprovação do PL da dosimetria, a ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, classificou a medida como "um desrespeito à decisão do STF e um grave retrocesso na legislação que protege a democracia".
Apesar de o veto prometido por Lula prometer prolongar o atrito com o Congresso no ano eleitoral, aliados do presidente avaliam que o tema pode render benefício eleitoral, ao reforçar o discurso em defesa da democracia.
Em meio a essa semana conturbada, o Palácio do Planalto promoveu um ajuste em sua base de apoio. O presidente efetuou a troca no comando do Ministério do Turismo: saiu Celso Sabino, expulso do União Brasil por desobedecer à orientação partidária de deixar o governo, e entrou Gustavo Damião, filho do deputado Damião Feliciano (União-PB) e aliado do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A substituição é vista como um aceno de Lula a Motta, após recentes desgastes na relação entre os dois.
A sequência de eventos coloca à prova a habilidade de articulação do governo Lula, que precisa administrar crises domésticas e internacionais enquanto busca manter sua agenda e sua coalizão de apoio coesas em um ano que se aproxima do ciclo eleitoral.