O ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes, figura política de trajetória controversa, está no centro de uma nova estratégia do PSDB para as eleições de 2026. Após deixar o PDT e se filiar aos tucanos no final de outubro de 2025, o chamado "neotucano" abriu um leque de possibilidades, tanto para si quanto para seu novo partido.
Do plano nacional ao foco estadual
Inicialmente, a mudança de legenda levantou a hipótese de Ciro Gomes ser um nome de peso para compor uma chapa presidencial de oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, esse cenário parece ter ficado mais distante. Em vez disso, o caminho que ganha força é o retorno ao comando do Palácio da Abolição, cargo que já ocupou entre 1991 e 1994.
O político tem criticado com intensidade o governo petista de Elmano de Freitas no Ceará e chegou a fazer movimentos de aproximação com o Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro, alianças que foram pausadas devido à entrada de Michelle Bolsonaro na disputa estadual. Sua força eleitoral local, no entanto, é um trunfo inegável.
Pesquisas mostram viabilidade no estado
Dados divulgados nesta semana pelo instituto Real Time Big Data ilustram o potencial de Ciro Gomes no Ceará. Em um cenário de disputa direta, ele aparece tecnicamente empatado com o governador Elmano de Freitas.
No primeiro cenário pesquisado, com a presença do candidato Eduardo Girão (Novo), tanto Elmano de Freitas (PT) quanto Ciro Gomes (PSDB) aparecem com 39% das intenções de voto. Girão tem 14%, enquanto votos nulos, brancos e indecisos somam 8%.
Em um segundo cenário, que inclui Roberto Cláudio (União), Elmano lidera com 39%, seguido por Roberto Cláudio com 26% e Eduardo Girão com 16%.
Já no terceiro cenário, uma disputa direta entre Ciro Gomes e Elmano de Freitas, o tucano aparece à frente, com 44% contra 42% do petista. Esses números reforçam a tese de que Ciro é o principal nome da oposição para aglutinar forças de direita e centro-direita no estado.
A estratégia de reconstrução do PSDB
A movimentação de Ciro Gomes se alinha a um plano maior do PSDB. A legenda, que perdeu espaço nacional com o surgimento do bolsonarismo, busca se reerguer a partir das bases estaduais. A eleição do deputado federal Aécio Neves para a presidência nacional do partido, em novembro, foi um passo nessa direção.
Nos bastidores tucanos, avalia-se que o caminho para recuperar a relevância nacional passa por conquistar governos estaduais e ampliar a bancada federal em 2026. Só depois disso o partido se lançaria com força em uma disputa nacional. O próprio Aécio Neves, que já foi candidato à Presidência, deve focar na disputa pelo governo de Minas Gerais, posicionando-se como uma alternativa ao PT e ao bolsonarismo.
Para os correligionários de Ciro Gomes no Ceará, a estratégia ideal é clara: ele deve evitar um embate nacional direto com Lula agora e se fortalecer no estado. Um eventual governo no Ceará daria a ele e ao PSDB um palanque sólido para futuras ambições nacionais, em um cenário pós-Lula.
Até o momento, Ciro Gomes tem se mantido evasivo sobre seus planos eleitorais concretos para 2026. Mas os números e a movimentação política indicam que, para o PSDB, o plano de voo rumo a 2026 pode ter como primeiro destino uma pista de pouso bastante familiar para o ex-governador: o estado do Ceará.