O governo canadense deu um passo que reacendeu o debate sobre energia e meio ambiente no país. No final de novembro de 2025, o primeiro-ministro Mark Carney anunciou um acordo com a província de Alberta para impulsionar a produção e exportação de petróleo.
O que está no acordo e a reação imediata
O memorando de entendimento prevê o apoio federal a um projeto privado de oleoduto rumo à costa do Pacífico. Entre as medidas concretas, estão a facilitação da construção de um porto de grande profundidade e a possibilidade de ajustar a proibição atual de petroleiros na costa da Colúmbia Britânica. A mudança abriria caminho para exportações diretas aos mercados asiáticos, reduzindo a dependência do mercado dos Estados Unidos.
Carney justificou a decisão citando um contexto de "pressionamento" econômico, especialmente pelas tarifas impostas pelos EUA, e a necessidade de diversificar mercados e fortalecer a soberania econômica canadense.
A reação política foi rápida e contundente. Steven Guilbeault, ex-ministro do Meio Ambiente no governo de Justin Trudeau e figura-chave nas políticas climáticas anteriores, renunciou ao cargo horas após a assinatura. Ele classificou o acordo como um "desmonte" das políticas verdes e criticou a insuficiência de consulta a povos indígenas e comunidades costeiras.
Os detalhes e as controvérsias do memorando
Analistas mapearam as concessões feitas pelo governo federal em troca do sinal verde para o oleoduto. O acordo prevê a revogação ou adiamento de limites de emissões projetados para o setor de petróleo e gás, além da dispensa temporária de algumas regras de eletrificação limpa. Em contrapartida, Alberta se comprometeu a aceitar um regime de preços industriais sobre carbono mais severo.
O governo apresentou o pacto como uma forma de "libertar recursos naturais", criar capacidade de exportação e usar parte dos recursos para financiar medidas de mitigação, como projetos de captura de carbono (CCS). No entanto, ambientalistas e publicações especializadas veem a medida como um retrocesso significativo. Eles argumentam que a tecnologia de CCS é controversa e não substitui a necessidade de reduzir a produção de combustíveis fósseis.
Obstáculos e tensões futuras
Além da crise política, o projeto reacende um terreno jurídico delicado. Líderes e nações indígenas afirmam não ter sido adequadamente consultados e expressam preocupação com riscos de derramamentos e impactos em ecossistemas frágeis. A falta de consenso com o governo da Colúmbia Britânica, província limítrofe, e o custo político de alterar a lei que limita o tráfego de petroleiros são obstáculos que podem dificultar a execução prática do oleoduto.
Do lado econômico, representantes da indústria petrolífera defendem o acordo como pragmático e necessário. Para eles, após anos de projetos cancelados, ampliar a capacidade de exportação é crucial para recuperar o crescimento e proteger empregos em províncias dependentes do óleo e gás. O memorando exige, contudo, que o financiamento para a construção do oleoduto e do porto seja majoritariamente privado.
Um deslocamento ideológico e o futuro das metas
O episódio marca um deslocamento nítido em relação às políticas ambientais associadas ao antecessor, Justin Trudeau. Enquanto Carney tenta conciliar pragmatismo econômico com o compromisso de neutralidade de carbono até 2050, críticos alertam que a manobra coloca uma carga excessiva em tecnologias de captura de carbono para compensar um potencial aumento das emissões.
A disputa promete dominar a agenda política canadense nos próximos meses, expondo a tensão permanente entre necessidades socioeconômicas de curto prazo e as metas climáticas de longo prazo. O governo de Carney agora se vê sob um escrutínio intenso, tanto doméstico quanto internacional, acusado por alguns setores de uma "traição climática" que pode definir seu legado.