A pintura 'Sol Poente' (1929), da consagrada artista brasileira Tarsila do Amaral, foi encontrada em uma situação inusitada: apoiada no chão, encostada em uma parede na residência do ex-presidente do banco Itaú, Roberto Setubal. A imagem, que viralizou, revela um capítulo complexo envolvendo uma das obras de arte mais valiosas do país, atualmente avaliada em 250 milhões de reais pela Justiça.
O registro e o contexto familiar
Quem divulgou a fotografia foi a influenciadora e empresária Daniela Fagundes, na época ainda casada com o banqueiro. As publicações foram feitas em sua conta no Instagram, em dezembro de 2024, pouco antes do anúncio da separação do casal. Daniela explicou que a obra havia chegado à residência do casal no ano anterior, por intermédio da galeria Almeida & Dale, uma das mais prestigiadas do circuito brasileiro.
No entanto, a aparente normalidade da cena escondia uma série de complicações legais. A pintura não poderia ser comercializada, pois estava no centro de um processo judicial. A tela é parte do espólio do falecido marchand e colecionador Jean Boghici, morto há dez anos, e seu paradeiro era alvo de disputas.
A trama judicial por trás da obra-prima
A história do quadro 'Sol Poente' é marcada por controvérsias. A obra havia sido furtada da viúva de Boghici, Geneviève Boghici, e só foi recuperada pelas autoridades em 2022. Agora, recuperada, ela se tornou peça-chave em um processo de inventário.
A Justiça determinou que Geneviève Boghici apresente a lista completa da herança deixada por seu marido, incluindo todas as obras de arte. O objetivo é que esses bens, entre os quais se encontra a valiosa pintura de Tarsila, sejam devidamente listados no inventário e, posteriormente, divididos entre os herdeiros legítimos. A avaliação em 250 milhões de reais foi estabelecida justamente para esse fim sucessório.
Repercussões e o mercado de arte de alto valor
O caso joga luz sobre a opacidade e os desafios do mercado de arte de altíssimo valor no Brasil. A presença temporária da obra na casa de uma figura tão proeminente quanto Roberto Setubal, ainda que por meio de uma galeria renomada, levanta questões sobre a circulação e a custódia de bens sob disputa judicial.
O episódio também ressalta a valorização estratosférica da obra de Tarsila do Amaral no mercado internacional, consolidando-a como a artista brasileira mais valorizada do mundo. Enquanto isso, o processo judicial segue seu curso, definindo o destino legal deste ícone da arte moderna brasileira.