A Câmara Municipal de Cerqueira César, no interior de São Paulo, deu um passo decisivo em um caso que mistura acusações de abuso de poder e maus-tratos a animais. Os vereadores aprovaram, por sete votos a três, a abertura de uma Comissão Processante contra o vice-prefeito Hemerson Lingote, do Podemos. O parlamentar é acusado de invadir o canil municipal e retirar à força uma cadela da raça Foxhound-americano que ainda estava em tratamento veterinário.
Votação e composição da comissão investigativa
A decisão foi tomada durante a 19ª Sessão Ordinária da Casa, realizada na segunda-feira, dia 1º. Após a leitura do pedido de cassação por infrações político-administrativas, os vereadores foram às urnas. O placar final registrou sete votos a favor da instauração da comissão e três contrários.
Votaram a favor os vereadores Adriana Aparecida Grilo Gomes (PL), Carlos Daniel Leone Parreira (PL), Joice Guarino Lopes (MDB), Odair da Silva (Podemos), Regina Aparecida Ferreira (Podemos), William Araújo (MDB) e Wilmor Ares Ramos Junior (SD). Já os votos contrários foram de Emerson César Calixto (Podemos), Jair Godoy (MDB) e Renan Vinicius Lopes Gomes (MDB).
Imediatamente após a aprovação, foi realizado o sorteio para definir os membros da Comissão Processante. Foram escolhidos os vereadores Jair Godoy (MDB), Regina Aparecida Ferreira (PODEMOS) e Wilmor Ares Ramos Júnior (Solidariedade). Eles terão um prazo de 90 dias para concluir os trabalhos de investigação e apresentar um parecer final.
Os detalhes da acusação contra o vice-prefeito
A denúncia, de autoria do morador César Vinicius Leste Guess e registrada sob o número 03/2025, descreve uma série de ações atribuídas a Hemerson Lingote. O fato central ocorreu no dia 6 de novembro de 2024. Segundo o boletim de ocorrência e relatos da diretora do canil, o estabelecimento estava fechado quando o vice-prefeito chegou.
Ele teria exigido a abertura imediata das portas e ameaçado invadir o local caso seu pedido fosse negado, com o objetivo de retirar alguns animais. A invasão, de fato, aconteceu. Câmeras de monitoramento da região flagraram o momento em que o vice-prefeito sai do canil com a cadela.
O animal, que passaria por uma cirurgia no dia seguinte, foi retirado sem qualquer autorização médica ou sanitária. Durante a ação, o portão e uma telha de proteção do canil foram danificados. A denúncia também cita que moradores alegam que o animal é utilizado pelo vice-prefeito para a caça de animais silvestres, e que ele se aproveitou do cargo público para cometer o ato.
Repercussões e defesa do acusado
O caso foi registrado na Polícia Civil como furto, invasão, depredação de patrimônio e segue sob investigação. Em nota, a Prefeitura de Cerqueira César afirmou que tomou conhecimento do ocorrido apenas após a elaboração do boletim de ocorrência e que não compactua com comportamentos fora da conduta ética e legal.
Procurado pela reportagem, o vice-prefeito Hemerson Lingote apresentou sua defesa. Ele negou que fosse ele a pessoa filmada saindo do canil municipal com o veículo e afirmou que vai recorrer de qualquer decisão que venha a ser tomada pela Câmara ou pela Justiça.
Agora, os olhos se voltam para a Comissão Processante. Nos próximos três meses, os três vereadores designados vão apurar minuciosamente as acusações, ouvir testemunhas e analisar provas. O resultado desse trabalho poderá, ou não, recomendar a cassação do mandato do vice-prefeito, em um desfecho que a população de Cerqueira César aguarda com atenção.
