Procurador do RJ surpreso com vazamento da Alerj que levou à prisão de Bacellar
Vazamento da Alerj surpreende procurador e prende presidente

O procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Antonio José Campos Moreira, manifestou surpresa ao tomar conhecimento de que o vazamento de informações sigilosas durante a Operação Zargun, em setembro, teria partido da Assembleia Legislativa do Estado (Alerj). O vazamento teria beneficiado o então deputado estadual e empresário TH Joias, alvo da operação.

Prisão do presidente da Alerj

Na quarta-feira, dia 3, a Polícia Federal prendeu o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (União Brasil), durante a Operação Unha e Carne. O mandado de prisão, expedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, foi cumprido dentro da Superintendência da PF no Rio, na Praça Mauá. Bacellar foi "convidado" para uma reunião e recebeu voz de prisão ao chegar.

Em sua decisão, Moraes citou "fortes indícios" de que Bacellar integrava uma organização criminosa e atuava para obstruir investigações envolvendo facções. O ministro também determinou o afastamento do parlamentar da presidência da Casa.

No carro usado por Bacellar para ir à PF, os agentes apreenderam mais de R$ 90 mil em espécie. Seu celular também foi confiscado.

Surpresa no Ministério Público e a investigação do vazamento

Em declarações, o procurador Antonio José Campos Moreira afirmou que a investigação conduzida pelo seu órgão não apontava para a Alerj como origem do vazamento. "Muita surpresa, porque não havia, como não há na nossa investigação nenhum indicativo de que o vazamento pudesse ter saído da Assembleia Legislativa", disse.

Moreira lembrou que, no dia da prisão de TH Joias, houve dificuldade para localizá-lo, com sinais de fuga aparente em sua residência, o que levantou suspeitas e motivou uma apuração interna sobre o possível vazamento.

O Blog do Octavio Guedes revelou que, na véspera da Operação Zargun, Bacellar ligou para TH Joias, avisou sobre os mandados e o orientou a destruir provas. O deputado chegou a organizar uma mudança com um caminhão-baú.

Repercussão e defesa

A Alerj informou que ainda não foi comunicada oficialmente sobre a operação e que tomará as medidas cabíveis após ter acesso a todas as informações.

O advogado de Bacellar, Bruno Borragini, defendeu o cliente, classificando a prisão como "totalmente desproporcional". Ele negou que Bacellar tenha vazado informações e afirmou que o contato teria partido de TH Joias, sem resposta do presidente da Alerj. "Ele não praticou nenhuma conduta ativa", disse o defensor.

Contexto das operações e o caso TH Joias

A Operação Unha e Carne se insere no contexto do julgamento da ADPF das Favelas pelo STF, que determinou à PF investigar a atuação de grupos criminosos violentos e suas conexões com agentes públicos no estado.

Já a Operação Zargun, em setembro, cumpriu mandados contra TH Joias, preso por suspeita de tráfico de drogas, corrupção e lavagem de dinheiro. A investigação apontou um esquema de corrupção ligado ao Comando Vermelho (CV), com suspeita de importação de armas do Paraguai e equipamentos antidrones da China.

TH Joias assumiu o mandato na Alerj em junho do ano passado, como segundo suplente, mas perdeu o cargo após a exoneração de Rafael Picciani da Secretaria de Esportes do governador Cláudio Castro (PL), que retornou à Assembleia.

Além da prisão de Bacellar, a PF cumpriu 8 mandados de busca e apreensão, incluindo o gabinete do deputado na Alerj. O governador Cláudio Castro fez sua primeira aparição pública após a prisão na noite de quinta-feira (4), no Centro do Rio, sem conversar com a imprensa.