Uma operação da Polícia Federal (PF) que levou à prisão do presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar, está causando um terremoto na política fluminense. O caso não apenas embaralha as cartas da sucessão estadual, mas também expõe publicamente uma rachadura entre Bacellar e o governador Cláudio Castro (PL).
Governador nega "manobra celere" para recompor vaga
Em evento realizado na Casa Firjan, em Botafogo, nesta sexta-feira (5), Cláudio Castro rebateu as acusações de que seu governo articulou uma manobra para devolver o então secretário Rafael Picciani (MDB) ao mandato de deputado estadual. A movimentação ocorreu logo após a prisão do deputado TH Joias, suspeito de crimes como tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e negociação de armas para o Comando Vermelho (CV).
O Supremo Tribunal Federal (STF) e a PF mencionaram nos autos uma "célere manobra" do Executivo e da Alerj para recompor a vaga. Castro, no entanto, classificou a acusação como infundada. "Isso é bobagem, é retórica de quem quer colocar o governo em uma coisa que o governo não tinha nada a ver", afirmou o governador.
Cronologia da volta de Picciani à Assembleia
Segundo a versão de Castro, a decisão de remanejar Picciani de volta ao legislativo já havia sido comunicada publicamente em 2 de setembro. A justificativa, na época, foi um impasse para a votação de pautas econômicas. O governador afirma que notificou todos os secretários que também eram deputados de que deixariam o governo naquela sexta-feira.
A antecipação da volta de Picciani – de sexta para terça-feira, dia da operação policial – teria sido uma decisão conjunta entre Castro e o próprio secretário. O motivo foi a notícia das investigações contra TH Joias. Castro argumentou que seria "muito ruim" manter um auxiliar do governo na Assembleia no momento em que poderia haver uma votação para soltar um deputado acusado de ligação com o crime organizado.
Com o retorno de Picciani ao mandato, TH Joias perdeu os direitos políticos de parlamentar. Dessa forma, a prisão dele não precisou passar por uma avaliação e votação dos demais deputados estaduais.
Racha exposto e prisão de Bacellar
O caso ganhou contornos mais dramáticos com a prisão do presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar. Ele é acusado de vazar informações sigilosas da Operação Zargun e de orientar TH Joias a destruir provas. Questionado sobre o assunto, Castro adotou um tom cauteloso.
"Acusação é acusação. Acho que temos que esperar as investigações. Eu não estou no bojo do processo", disse o governador, reforçando que não tem acesso ao inquérito. Ele afirmou confiar no trabalho do STF e da PF, e que qualquer agente público envolvido com crime deve ser punido exemplarmente.
A operação da PF, portanto, vai além do combate ao crime organizado. Ela joga luz sobre as tensões internas no poder do Rio de Janeiro, afeta diretamente a composição da Assembleia Legislativa e lança uma sombra de incerteza sobre o futuro político do estado, especialmente no que diz respeito à sucessão governamental.