Projeto antifacções de Derrite gera crise bolsonarista e abre espaço para Mello Araújo
Crise no bolsonarismo abre espaço para Mello Araújo

Projeto antifacções causa divisão no bolsonarismo

A atuação do deputado Guilherme Derrite como relator do projeto de lei contra facções criminosas gerou forte descontentamento entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo avaliação de membros do grupo, a condução do tema abriu espaço para que outro nome ganhe força na disputa ao Senado em 2026: o vice-prefeito de São Paulo, coronel Mello Araújo.

Erros estratégicos e críticas internas

Aliados bolsonaristas afirmam que Derrite cometeu um erro estratégico ao não buscar consenso sobre a viabilidade jurídica de sua proposta antes de apresentá-la publicamente. Essa falha teria aberto margem para críticas e obrigado o parlamentar a recuar em alguns pontos.

O aumento de penas para criminosos e a ampliação de garantias legais para forças de segurança são bandeiras históricas da direita brasileira. Havia expectativa no grupo de que Derrite utilizasse o projeto como ativo eleitoral para fortalecer sua candidatura ao Senado.

O momento era considerado particularmente favorável, especialmente após a operação policial no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho em 28 de outubro, que resultou em 121 mortos e gerou amplo apoio popular.

Assessoria técnica rejeitada e defesa emocionada

Segundo relatos de bolsonaristas ouvidos sob reserva, na sexta-feira (7), Derrite foi aconselhado a consultar especialistas próximos ao grupo para validar tecnicamente o texto. Um dos nomes sugeridos foi o do promotor de Justiça paulista Lincoln Gakiya, reconhecido por seu trabalho de enfrentamento ao PCC.

Entretanto, o promotor acabou criticando a proposta, e Derrite descartou a sugestão de assessoria técnica, ressaltando sua própria experiência no combate ao crime organizado - ele foi oficial da Polícia Militar por mais de 20 anos.

Em discurso no plenário da Câmara nesta quarta-feira (12), Derrite defendeu seu projeto e afirmou: "Agora, sabe por que o governo federal e alguns políticos estão dizendo isso [criticando a proposta]? Porque eles não conseguem debeter o texto comigo". O deputado terminou sua fala chorando ao se dirigir a familiares de policiais mortos na operação do Rio, que eram homenageados na sessão.

Mudanças no cenário eleitoral de 2026

No início do ano, os planos da centro-direita previam a eleição de Derrite e Eduardo Bolsonaro ao Senado em 2026, como parte da estratégia de ampliar a presença bolsonarista na Casa, responsável por analisar pedidos de impeachment de ministros do STF.

Como parte desse plano, Derrite deixou o PL, partido pelo qual se elegeu em 2022, e migrou para o PP, permitindo que cada sigla tivesse um candidato. Entretanto, Eduardo Bolsonaro foi para os Estados Unidos em março, em meio a ataques ao ministro Alexandre de Moraes, e tanto seu retorno ao Brasil quanto sua candidatura são considerados improváveis pelos dirigentes partidários do grupo.

Com o afastamento de Eduardo, o nome do vice-prefeito Mello Araújo passou a circular como alternativa para a chapa ao Senado e agora ganha força entre aliados de Bolsonaro. Quando o tema foi noticiado anteriormente, Mello Araújo negou participar de articulações, mas admitiu que poderia concorrer se Bolsonaro assim decidisse.

Nesta quarta, ele voltou a defender o filho do ex-presidente: "Espero que o Brasil volte ao rumo. País democrático tem que ter o presidente Bolsonaro nas eleições e Eduardo Bolsonaro para o Senado. Isso é democracia. O que estão fazendo com eles hoje farão com os outros amanhã".

Derrite foi procurado pela reportagem, mas preferiu não comentar, segundo sua assessoria.