Mais de três anos após os ataques às sedes dos Três Poderes, os eventos do 8 de janeiro de 2023 estão longe de ser um capítulo encerrado na história brasileira. Pelo contrário, eles prometem ser o combustível principal e um divisor de águas na disputa eleitoral que se aproxima no Distrito Federal, em outubro de 2026. Personagens que estiveram no epicentro da crise naquele dia fatídico agora se preparam para travar uma batalha política nas urnas, transformando a memória da invasão em plataforma de campanha.
Os protagonistas da crise e suas novas batalhas
O cenário político do DF para 2026 é diretamente moldado pelas consequências do 8 de janeiro. De um lado, estão figuras que ocupavam cargos de poder durante a crise. O governador Ibaneis Rocha (MDB), que foi afastado temporariamente do cargo por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) sob acusação de omissão, agora busca uma vaga no Senado. Sua vice na época, Celina Leão (PP), que assumiu o governo por dois meses durante o afastamento, é a candidata a sucedê-lo no Palácio do Buriti, contando com o apoio declarado de Michelle Bolsonaro.
Do outro lado, está Ricardo Cappelli (PSB), o jornalista nomeado interventor federal na segurança pública do DF durante a crise. Sua atuação, coordenando a desocupação do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército e afastando a cúpula da Polícia Militar, lhe rendeu notoriedade, especialmente em setores da esquerda. Agora, ele tenta liderar uma frente progressista para concorrer ao governo. "O 8 de Janeiro é o meu cartão de apresentação, uma marca de organização, mas não será minha pauta principal de campanha", afirma Cappelli, que hoje preside a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
O tabuleiro eleitoral e os obstáculos internos
A disputa, no entanto, não será simples. O eleitorado do Distrito Federal tem mostrado forte inclinação ao bolsonarismo nas últimas eleições, o que fortalece a candidatura de Celina Leão. Ela e Michelle Bolsonaro, que deve concorrer ao Senado, defendem abertamente a anistia aos condenados pelo 8 de Janeiro.
No campo oposto, a unificação é um desafio. Cappelli precisa convencer o PT a apoiá-lo, partido que já tem um pré-candidato: o ex-deputado distrital Leandro Grass, atual responsável pelo Iphan e pela restauração das obras de arte destruídas na invasão. Ambos os lados avaliam a necessidade de um deles desistir para unificar o campo progressista e enfrentar a direita fortalecida.
Um quarto concorrente que aposta no distanciamento
Completando o quadro está o ex-governador José Roberto Arruda, que tenta uma volta ao cargo. Sem partido após deixar o PL, Arruda se apresenta como a alternativa que não estava "metida nessa confusão". Ele critica a incompetência de políticos e a falha das forças de segurança no episódio, usando o 8 de Janeiro como argumento para sua própria candidatura, apesar de precisar superar entraves judiciais de uma condenação anterior no "mensalão do DEM".
O pano de fundo judicial e o legado duradouro
Este cenário político se desenha enquanto o Supremo Tribunal Federal deve concluir até o fim de 2025 o julgamento dos principais envolvidos na trama golpista. O ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado como líder, já cumpre pena de 27 anos de prisão. Outros trinta acusados, incluindo ex-ministros e militares, além de mais de mil invasores, têm seus destinos praticamente definidos.
Apesar da conclusão dos processos, o tema está longe de sair do debate público. Tanto o presidente Lula, que tentará um quarto mandato em 2026, quanto seu adversário, usarão o episódio em suas campanhas nacionais. No DF, a polarização em torno do 8 de Janeiro promete inflamar a disputa local, mostrando que as feridas abertas na Praça dos Três Poderes em 2023 ainda definem o futuro político da capital do país.
A página do 8 de Janeiro, portanto, não foi virada. Ela será reescrita e disputada voto a voto nas eleições do próximo ano, com os personagens do próprio drama competindo pelo controle político do Distrito Federal.