Uma página pouco conhecida da história política brasileira está sendo revelada por quem testemunhou os bastidores da campanha presidencial de Silvio Santos em 1989. Paulo Tadeu, editor da Matrix Editora, compartilha com exclusividade detalhes curiosos que o filme Silvio Santos vem aí, estrelado por Leandro Hassum, decidiu ignorar.
O início inesperado no PMB
No final dos anos 1980, Paulo Tadeu era um jovem publicitário quando conheceu Armando Correia, político do PMB (Partido Municipalista Brasileiro). Em 1988, ele foi contratado para criar o programa de horário eleitoral gratuito do partido, enfrentando o desafio de um orçamento praticamente inexistente.
"A verba era tão limitada que precisei escrever todo o texto e desenvolver o formato dentro das restrições que tínhamos", relembra Tadeu. O programa obteve sucesso considerável para os padrões do partido, impressionando Armando Correia a ponto de convidá-lo novamente no ano seguinte para trabalhar em sua campanha presidencial.
O golpe de sorte com Silvio Santos
O trabalho de Paulo Tadeu na campanha de Armando Correia seguia normalmente até que uma notícia inesperada mudou tudo. "Um dia, abro o jornal e descubro que Silvio Santos havia entrado na disputa presidencial. Minha primeira reação foi achar que tinha perdido meu trabalho freelance", conta.
Para sua surpresa, na volta do almoço, encontrou Armando Correia na porta da agência onde trabalhava. O político pedia que ele escrevesse um último texto anunciando sua desistência da candidatura para dar lugar a Silvio Santos. Paulo escreveu rapidamente, datilografou as laudas e Armando seguiu para o SBT.
Horas depois, veio a ligação que mudaria tudo: "Alô, Paulo Tadeu, aqui é o Silvio. Estou com o Armando na minha sala e gostei muito dos textos que você fez para ele. Você poderia vir aqui agora no SBT para conversarmos?"
Nos bastidores do SBT
Ao chegar ao SBT, Paulo Tadeu encontrou um verdadeiro batalhão de imprensa do lado de fora do estúdio. Dentro, o ambiente era de intensa produção. Silvio Santos gravava, em aproximadamente duas horas, sete ou oito programas que faltavam para completar o primeiro turno da campanha.
O que mais chamou a atenção de Paulo foi a habilidade natural do apresentador em comunicar-se. "Fiquei impressionado com a capacidade dele de vender o próprio peixe. Pensei: 'meu Deus, o que vou escrever de diferente que o Silvio já não fale naturalmente?'", revela.
Um momento particularmente curioso aconteceu quando uma gravação ultrapassou significativamente o tempo permitido. O diretor informou que o programa tinha dado cinco minutos e quarenta, mas Silvio achou que estava tudo bem, acreditando que o horário era de cinco minutos por bloco.
O diretor então explicou que o PMB tinha apenas dois minutos e meio pela manhã e dois minutos e meio à noite. Silvio, genuinamente surpreso, comentou que ninguém o havia avisado sobre essa limitação.
O convite e o fim abrupto
Após as gravações, Silvio Santos cumprimentou Paulo Tadeu e o chamou para sua sala particular. Ali, fez uma proposta concreta: a campanha do primeiro turno já estava pronta, mas queria que Paulo assumisse o segundo turno.
Paulo aceitou imediatamente. Silvio perguntou se ele morava com os pais, anotou seu telefone e deu o número de sua casa, explicando que, ao ligar, o mordomo Antônio atenderia e o colocaria em contato.
Entretanto, pouco tempo depois, o registro do PMB foi cassado por uma falha em uma ata, descoberta por Eduardo Cunha, que começava sua trajetória política na época. Com isso, a candidatura de Silvio Santos chegou ao fim antes do primeiro turno.
Paulo Tadeu finaliza refletindo sobre a experiência única: "Não havia imprensa lá dentro, apenas algumas poucas pessoas da produção, o vice-presidente Arlindo e eu. Foi um momento histórico, observado praticamente de dentro do palco onde tudo acontecia".