Em um dia marcado por declarações duras e avanços militares, o presidente russo, Vladimir Putin, rejeitou nesta terça-feira (2) os pontos de um plano de paz reformulado pela Ucrânia e líderes europeus. A proposta havia sido entregue pelo enviado especial do governo dos Estados Unidos, Steve Witkoff, durante encontro em Moscou.
Negociações sob ameaça de avanço militar
Putin afirmou estar disposto a negociar, mas fez um alerta grave: se a Ucrânia se recusar a um acordo, as forças russas avançarão e tomarão mais território. Ele ainda acusou a Europa de não querer a paz e disparou: "Se a Europa quiser lutar uma guerra, nós estamos prontos agora".
O plano de paz original, com 28 pontos, era considerado extremamente favorável a Moscou, incluindo a cessão de um quinto do território ucraniano e a garantia de que o país não entraria na Otan. A contraproposta europeia e ucraniana, não divulgada publicamente, foi levada a Putin após passar pelo governo de Donald Trump.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que Putin também receberá Jared Kushner, genro de Trump que tem participado das negociações. O contexto é de uma guerra que começou em 2014, intensificou-se com a invasão em fevereiro de 2022 e hoje vê a Rússia controlando mais de 19% do território ucraniano, um avanço de um ponto percentual em dois anos.
Captura estratégica de Pokrovsk aumenta pressão
Em paralelo às tensas negociações diplomáticas, o Kremlin anunciou na segunda-feira (1º) a captura da cidade de Pokrovsk, no leste da Ucrânia, após cerca de um ano de batalhas. O Ministério da Defesa russo divulgou imagens de soldados hasteando a bandeira russa no centro da cidade.
A Ucrânia não confirmou a perda total de Pokrovsk, com soldados afirmando à Reuters que ainda controlam o norte da cidade. No entanto, o avanço russo é considerado um golpe estratégico. Pokrovsk é um crucial entroncamento de rodovias e ferrovias que abastecem as últimas posições ucranianas no Leste.
Sua captura pode:
- Inviabilizar o abastecimento das tropas ucranianas na frente oriental.
- Abrir caminho para um avanço russo rumo ao oeste, onde as defesas são mais dispersas, e ao norte, em direção a Kramatorsk e Sloviansk.
- Criar o risco de cerco ao Exército ucraniano na região.
Vestido com uniforme militar, Putin apareceu em vídeo celebrando a conquista com altos oficiais, chamando-a de "importante" para o futuro do conflito. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que estava em Paris e segue para a Irlanda, confirmou que os confrontos na região de Pokrovsk e Kharkiv seguem intensos.
Rússia registra maior avanço desde 2024
O Exército russo também reivindicou a invasão da cidade de Vovchansk, próxima a Kharkiv. O ministro da Defesa da Rússia, Andrei Belousov, chamou a captura de "um passo importante em direção à vitória".
Uma análise de dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) indica que as tropas russas fizeram no mês passado o maior avanço na Ucrânia desde novembro de 2024. Kiev, por sua vez, afirma que esses ganhos territoriais vieram acompanhados de pesadas perdas humanas e materiais para as forças de Moscou.
Enquanto a Rússia consolida suas posições no campo de batalha, a rejeição de Putin ao plano de paz reformulado e suas ameaças diretas à Europa lançam um véu de incerteza sobre o futuro das negociações. A pressão sobre o governo Zelensky aumenta a cada cidade perdida, em um conflito que parece longe de um desfecho pacífico.