Um vídeo que mostra um indígena pintando com urucum os rostos de participantes em um evento tem circulado nas redes sociais com informações falsas sobre ter sido gravado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém. A verificação dos fatos revela que as imagens são reais, mas foram registradas mais de um ano antes do evento climático.
Como a falsa informação se espalhou
Na última quarta-feira (19), dezenas de publicações no Facebook, X (antigo Twitter) e TikTok compartilharam o vídeo afirmando que as cenas aconteceram durante a COP30. As legendas acompanhantes faziam referência às declarações recentes do chanceler alemão Friedrich Merz, que criticou as condições em Belém após participar da conferência climática.
Uma das publicações falsas questionava: "Entendendo a declaração do chanceler alemão, diz aí se ele está errado". Outra descrevia sarcasticamente: "O cara não queria vir para o Brasil, foi para o lugar quente do caramba, pagou caro pra dormir e comer, tomou banho pra ir num centro de convenção alagado, cheirando urina, ar condicionado quebra, senta na frente pra tentar aproveitar alguma coisa e acontece isso... *VIVA COP 30*".
O contexto real do vídeo
O episódio verdadeiro ocorreu em 8 de maio de 2024, durante o primeiro dia do Seminário Técnico sobre a Ferrogrão em Santarém, no oeste do Pará. O protesto foi liderado por Naldinho Kumaruara, da aldeia Solimões, que utilizou tinta de urucum para marcar os rostos de defensores do projeto ferroviário.
O ato representava um protesto contra a construção da Ferrogrão, classificada por povos originários como um plano de extermínio. O evento foi amplamente coberto pelo g1 na época, com reportagem detalhando o contexto do protesto indígena.
A polêmica com o chanceler alemão
A viralização do vídeo falso ocorreu seis dias após Friedrich Merz, chanceler da Alemanha, fazer declarações controversas sobre Belém durante discurso no Congresso Alemão do Comércio. O político conservador afirmou que jornalistas que o acompanharam ao Brasil ficaram "contentes por termos retornado à Alemanha", especialmente daquele lugar onde estavam.
Merz, que assumiu como chanceler em maio de 2025 pelo partido de direita União Democrática Cristã (CDU), não se desculpou pelas declarações, segundo seu porta-voz Stefan Kornelius. O governo alemão não vê danos nas relações diplomáticas com o Brasil devido ao episódio.
As reações brasileiras foram imediatas e contundentes. O prefeito de Belém, Igor Normando (MDB), classificou o comentário como "infeliz, arrogante e preconceituosa". O governador paraense, Helder Barbalho (MDB), afirmou que o "discurso preconceituoso revela mais sobre quem fala do que sobre quem é falado".
O presidente Lula (PT) também rebateu o líder alemão, declarando que "Berlim não oferece 10% da qualidade" do Pará e de Belém. Nas redes sociais, as reações se dividiram entre críticas à Alemanha e acusações de xenofobia contra Merz.
Este caso ilustra como conteúdos verdadeiros podem ser descontextualizados para servir a narrativas falsas, especialmente em momentos de tensão diplomática internacional. A verificação cuidadosa das datas e contextos continua sendo essencial para combater a desinformação nas redes sociais.