Um vídeo que circula massivamente nas redes sociais, supostamente mostrando uma fábrica na China onde frutas, legumes e verduras recebem coloração artificial, é completamente falso. As cenas foram geradas por inteligência artificial (IA), conforme confirmado por ferramentas especializadas de detecção e por marcas d'água presentes no próprio material.
O vídeo viral e a desinformação
Publicado na terça-feira, 2 de julho, na plataforma X (antigo Twitter), a postagem alcançou a impressionante marca de mais de 3,7 milhões de visualizações. A legenda em inglês, "Se isso é a China agora, imagina no futuro...", sugeria uma crítica à suposta prática industrial. As imagens mostravam operários uniformizados de branco utilizando sprays e bacias com água colorida para "tingir" produtos como tomates, que apareciam verdes em uma esteira e ficavam vermelhos após passar por um jato de máquina.
Muitos usuários nos comentários demonstraram dúvida sobre a veracidade do conteúdo, o que se mostrou um bom instinto. A própria plataforma X acabou por adicionar uma nota de contexto ao post, alertando: "Observe que este vídeo utiliza IA para criar cenas de coloração de frutas, marcadas com a marca d'água 'AI生成' (tecnologia de IA). Detectores de IA confirmam que 99,9% do conteúdo é gerado automaticamente e não se trata de imagens reais".
Como a falsificação foi desmontada
A equipe do Fato ou Fake, projeto de checagem de informações, submeteu o material à análise do Hive Moderation, uma ferramenta reconhecida que identifica o uso de inteligência artificial em vídeos, imagens e áudios. O resultado foi conclusivo: houve 99,9% de chances de o conteúdo ter sido criado com esse recurso tecnológico.
Além da análise técnica, o vídeo em si carregava evidências internas de sua origem sintética. Era possível visualizar uma marca d'água em caracteres chineses (AI生成), que traduz-se literalmente como "gerado por IA". Outro texto sobreposto às imagens, também em chinês, deixava claro: "As imagens do vídeo são compostas digitalmente e não existem na realidade".
O perigo das deepfakes e conteúdos sintéticos
Este caso exemplifica um desafio crescente na era digital: a disseminação de conteúdo sintético hiper-realista com o potencial de enganar milhões. Vídeos gerados por IA, conhecidos como deepfakes, podem ser criados para espalhar desinformação, prejudicar a imagem de países ou empresas, e semear dúvidas sobre produtos e práticas legítimas.
A checagem de fatos torna-se, portanto, uma ferramenta essencial para o cidadão. Diante de um conteúdo suspeito e viral, é crucial buscar fontes confiáveis de verificação, observar detalhes inconsistentes nas imagens (como marcas d'água ou textos explicativos) e estar atento a alertas de contexto aplicados pelas próprias plataformas sociais.
Em resumo: o vídeo que assustou internautas ao mostrar frutas sendo pintadas em uma fábrica chinesa é uma produção fictícia de inteligência artificial. Não há evidências de que tal prática ocorra no cenário retratado. A lição que fica é a necessidade de constante vigilância e crítica ao consumir informações sensacionalistas nas redes.