Vídeo de B-2 em Aruba é fake; imagem é de Miami
Vídeo de B-2 em Aruba é fake; veja a verdade

Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostrando um bombardeiro norte-americano B-2 Spirit sobrevoando uma praia tropical é falso. A publicação, que alegava que a cena foi gravada em Aruba, ilha caribenha próxima à Venezuela, na verdade registra um evento militar em Miami, nos Estados Unidos.

A viralização do conteúdo falso

Na segunda-feira (24), uma publicação no X (antigo Twitter) alcançou mais de 315 mil visualizações ao exibir um vídeo do bombardeiro B-2 sobrevoando a baixa altitude uma praia ensolarada. Sobre a imagem, uma mensagem em inglês afirmava: "Passando férias em Aruba, quando vejo isso".

Aruba é uma pequena ilha do Caribe holandês situada a apenas 25 km da costa venezuelana, o que daria um caráter geopolítico significativo à aparição do avião militar na região.

Por que a publicação é falsa?

Apesar de o vídeo ser real e não produto de inteligência artificial, a localização está completamente errada. O Fato ou Fake entrou em contato com o Comando Militar do Sul dos Estados Unidos, que confirmou: "Podemos confirmar que a afirmação do vídeo, de que a aeronave foi vista em Aruba, não procede. O vídeo não representa o que afirma mostrar".

Através de ferramentas de verificação, a equipe de fact-checking descobriu que o conteúdo original foi postado no TikTok em 25 de maio pelo perfil levinmoore.st, onde alcançou mais de 500 mil visualizações. O vídeo foi gravado durante as comemorações do Memorial Day em Miami Beach, feriado norte-americano que homenageia militares mortos em serviço.

Uma evidência visual decisiva aparece no próprio vídeo: um posto-salva-vidas azul-claro com detalhes em amarelo que, quando comparado com imagens do Google Street View, corresponde exatamente à torre da rua 5 de Miami Beach, dentro do perímetro onde ocorreu o evento militar nos dias 25 e 26 de maio.

Contexto geopolítico das fake news

A viralização do conteúdo falso coincide com importantes desenvolvimentos nas relações entre Estados Unidos e Venezuela. No mesmo dia 24, o governo norte-americano incluiu oficialmente em sua lista de grupos terroristas o Cartel de los Soles, organização que os EUA afirmam ser chefiada pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro.

Vitelio Brustolin, professor de relações internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador de Harvard, explicou ao Fato ou Fake várias razões técnicas que demonstram a improbabilidade da cena mostrada no vídeo:

O B-2 é projetado para missões furtivas - "Dada sua missão, voos de baixa altitude ou muito visíveis durante o dia sobre áreas costeiras tropicais caminham contra a norma esperada para esse tipo de avião".

Falta de justificativa operacional - "Um avião B-2 operando perto da Venezuela em plena luz do dia exigiria justificativa clara que tornaria o evento publicamente reconhecido".

Operação sem escolta improvável - "Dadas as tensões entre Estados Unidos e Venezuela, é muito improvável que um B-2 operasse sem uma escolta de caças F-22 ou F-35".

Altitude operacional - "Em regiões sensíveis, o B-2 voaria de 30 mil a 40 mil pés, invisível ao olho nu".

Cenário de tensão internacional

O contexto geopolítico explica por que a fake news ganhou tanta traction. O governo Trump anunciou recentemente uma operação militar no Caribe poucos dias após dobrar para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à prisão ou condenação de Maduro.

De agosto para cá, forças americanas atacaram 21 embarcações no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, em ações que deixaram 83 mortos, segundo o comando americano, que alega que os barcos pertenciam a organizações narcoterroristas.

O jornal The New York Times informou que o presidente Donald Trump já tem uma série de opções militares na mesa, incluindo ataques a autoridades venezuelanas, enquanto a revista The Atlantic afirma que Maduro estaria disposto a negociar sua saída do poder.

Além do envio de vários navios de guerra ao Mar do Caribe e de um submarino nuclear, os Estados Unidos também deslocaram caças, bombardeiros e helicópteros para o sul do Caribe, criando um cerco militar que inclui bases americanas na região e estruturas de segurança cooperativa em aeroportos de países parceiros - dois deles a menos de 100 km da Venezuela.