Um vídeo que viralizou nas redes sociais, mostrando quatro homens carregando uma cobra gigante nos ombros supostamente na Amazônia, foi identificado como falso. A produção é, na realidade, uma criação gerada por inteligência artificial (IA), conforme atestaram ferramentas especializadas e um pesquisador da região.
O vídeo viral e as suspeitas iniciais
Publicado em 27 de novembro em plataformas como TikTok e Facebook, o conteúdo de dez segundos rapidamente acumulou centenas de milhares de visualizações. Nas imagens, os indivíduos caminham pela calçada de uma rua com casas coloridas, carregando a enorme serpente. Legendas e áudio afirmavam se tratar de uma "Anaconda encontrada na selva amazônica", com falas como "Vai devagar, segura a cabeça dela firme".
Na seção de comentários, a desconfiança já era evidente. Enquanto alguns usuários questionavam se era "real ou inteligência artificial", outros espalhavam desinformação, associando a cena falsa a casos reais de ataques de serpentes na Indonésia.
Ferramentas e especialista confirmam a falsificação
A própria versão do TikTok carregava um aviso indicando que o conteúdo foi "Marcado pelo criador como gerado por IA". Para uma verificação técnica, a equipe de checagem submeteu o material a duas ferramentas especializadas: Hive Moderation e Sightengine.
Os resultados foram conclusivos. A Hive Moderation apontou 99,9% de probabilidade de o vídeo ter sido produzido com IA. Já a Sightengine indicou 91% de probabilidade, acrescentando que há 92% de chances de a ferramenta Sora, da OpenAI, ter sido usada na criação.
Em entrevista, o pesquisador Lywouty Reymond de Souza Nascimento, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explicou os erros evidentes. "O vídeo é, claramente, criado por inteligência artificial e foi manipulado para exagerar o tamanho da serpente", afirmou. Ele destacou ainda um erro biológico crucial: as cobras pítons (Pythonidae), como a que aparece no vídeo, não são nativas da Amazônia nem do Brasil. Elas são originárias da África e da Ásia.
Busca reversa não encontra origens reais
Para eliminar qualquer dúvida, a equipe realizou uma busca reversa de imagens usando o Google Lens. A pesquisa, que ajuda a rastrear a publicação original de um conteúdo, não encontrou qualquer evento real associado à cena. Não há registros de uma serpente desse porte sendo transportada publicamente na região, confirmando que a narrativa é totalmente fabricada.
Este caso serve como um alerta importante sobre o avanço da desinformação gerada por IA. Conteúdos realistas, mas falsos, podem se espalhar rapidamente, explorando a curiosidade e o medo das pessoas. A checagem de fatos e a consulta a fontes especializadas permanecem sendo ferramentas essenciais para combater as fake news.